terça-feira, 24 de abril de 2012

Eu escrevo


Eu escrevo. É a coisa que mais gosto de fazer, o que me dá mais prazer. Não estou falando de textos para internet ou posts para blogs. Eu escrevo literatura. Sei que para muita gente isso soa arrogante, um pouco pomposo. Existe um certo glamour na ideia de escritores, criações. Talvez porque somos obrigados a ler clássicos na escola, e (muitos de nós) descobrimos uns tantos outros na vida adulta. Existe mesmo uma reverência à pessoa capaz de nos hipnotizar ao longo de um livro. Por aquele capaz de construir um universo tão rico e fascinante apenas com palavras. Talvez venha daí a sensação de pretensão quando alguém diz que escreve. Eu vejo como um ofício. Um objetivo na vida. É a minha cenorinha a frente do cavalo. Quando eu fecho os olhos e derreto tudo o que está a minha volta, onde me vejo é escrevendo. Não sei como vou chegar lá. Eu tenho uma porção de outras coisas que também são importantes para mim. Eu tenho um padrão de vida (do qual eu não abro mão de jeito nenhum). Tenho minha família. Tenho meu sonho de conhecer o mundo. Então a literatura fica encaixada no meio de tudo esperando o momento de virar protagonista. É muito fácil ela virar coadjuvante. Às vezes até figurante. Talvez meu maior esforço de 28 dias, é ser constante na literatura. Além de bonita e com uma bunda legal, eu quero chegar aos 40 anos escritora. Porque tem também a vaidade. Não a de ego, a física mesmo. Mas enfim, eu escrevo. E um dia eu vou trocar todos os “ex” que me descrevem nesse blog por uma única palavra: “escritora”. Só não troco porque ainda não sou. E porque ainda não me sinto uma. Porque isso é sério e é importante para mim, eu estudo. Eu leio. Eu apanho da gramática. Eu tento fazer a lição de casa com o que eu tenho em mãos. Há alguns anos descobri a Noemi, e seu curso de escrita criativa. Descobri por acaso, lendo um caderno de domingo no jornal. Me inscrevi e ganhei uma família. Fiz uma série dos cursos que ela ministra na Casa do Saber com um mesmo grupo de pessoas, que se tornaram amigos (e são hoje basicamente toda minha vida social). No começo desse ano ela fez pela primeira vez um módulo “avançado” do curso, exclusivo para esse pessoal que está há um tempo na estrada com ela. E o formato do curso foi completamente diferente do que fazíamos até então. Tem sido um processo mais intenso, mais exigente. Tem me deixado muito mais exposta e fragilizada. Mas acho que é assim mesmo quando você começa a sair da zona de conforto do puro hobby (aquele quando sua mãe fala para as visitas que você escreve bem), para perseguir uma tridimensionalidade maior de técnica, de estilo e conteúdo. Esse final de semana terminei um conto. Não foi o primeiro conto que escrevi. Já escrevi vários. Algumas vezes partilhei com alguns amigos buscando ouvir sobre ele. Mas o retorno (sempre bem intencionado, obviamente) foi o mesmo da minha mãe. Dessa vez terminei um conto dentro de um processo mais profissional. Terminei um conto de verdade. Não foi a melhor coisa que já escrevi na minha vida, mas foi uma das que mais me arrisquei. Foi dolorido e maravilhoso. Então agora estou voltada ao meu livro novamente. Aquele que se retarda por ser terminado há tanto tempo. Ideia para livros tenho aos montes. Ideias de clássicos já foram enterradas com seus donos à baciada. No final do dia a única literatura que existiu é a que se realizou. A que foi escrita. Um ofício a gente faz todo dia. A gente acorda, escova os dentes, toma café e realiza. O resto é papo furado. Não é nada, não é nada. Não é nada mesmo. É um ofício solitário. Muito solitário. Não é a vida uma danada? Fez desmoronar todas minhas muletas até que sobraram somente eu e a literatura. Eu sempre achei que tinha uma rede de segurança. No final do ano, durante um dos piores infernos que enfrentei, não tinha ninguém lá. Agora o caminho que se abre é solitário. É para que eu faça sozinha. Mas por ironia, vem com essa rede de proteção maravilhosa, que não vai deixar minha escrita cair. Eu andei tanto para chegar até aqui e é isso. Eu precisava descobrir. Eu escrevo.

Um comentário:

Dominique de Wit disse...

Verdade esse grupo é a nossa familia de escritores. Adoro vocês. Dominique Girard