sábado, 28 de abril de 2012

MUTLEY



Sempre morri de rir com aquele cachorro vira-latas da Corrida Maluca. Ou quando ele e o Dick Vigarista perseguiam o pombo correio e sempre dava tudo errado. Adorava vê-lo resmungando, e a risada rouca. O Mutley é o rabugento mais icônico da minha infância. Acho que todo mundo adorava ele. Na vida real o excesso de rabugice não faz tanto sucesso. Essa semana eu estava escrevendo um post e depois de dois parágrafos me dei conta que eu só reclamava. Dois parágrafos reclamando de como eu não conseguia cumprir as coisas que eu me propunha, de como a alergia estava fazendo minha casa ficar repleta de lencinhos de papel usados, de como a grana está curta, e o meu tratamento dentário está ficando uma fortuna, de como eu não tenho vida social e me sinto sozinha, e de como eu estou sempre, constantemente, irremediavelmente, insatisfeita. Pensa só nisso! Vontade de jogar a pessoa pela janela do 15º andar. Não existe nada mais chato do que gente que só reclama. Gente que está sempre com algum problema, enfrentando alguma “adversidade”, sendo vítima de alguma coisa. Eu mesma não tenho 5 minutos de saco para aturar gente que, quando você pergunta se está tudo bem, responde “Tudo...”, então dá um profundo suspiro e começa toda a ladainha e o mimimi. Nós vivemos em uma sociedade que tende a engrandecer as agruras pessoais. “Ah, coitadinha! Passou por tanta coisa!!!”. Quer saber? É um saco! Todo mundo tem uma certa dose de drama na vida. Passar por dias difíceis ou experimentar tristeza, insegurança, injustiça, traição não é exclusividade de ninguém. Nós viemos nessa vida para viver exatamente essa experiência. Ser humano. E a experiência vem com uma gama muito ampla de sentimentos que são incríveis de serem vividos. Então se você está experimentando sentimentos negativos, que bom para você! Significa que a vida está acontecendo de forma completa para você. E sim! Ela está acontecendo de forma completa para mim. Tem épocas que é mais aventura, é mais como um filme de ação. Tem outros que é romance daqueles que nos fazem sonhar no sofá em dia de chuva. E tem momentos que é chata e monocórdica como um filme iraniano (Ok! Até gosto de alguns filmes iranianos, mas vamos combinar que cinema iraniazzzzzzzzzzzzzzzz). Claro que tem um grupo de sentimentos que a gente não fica muito empolgado em sentir. Mas eu acho que a graça da brincadeira é pintar o quadro com várias cores. Que a felicidade só acontece quando existe parâmetro de comparação. Então eu apaguei o post e deixei o blog vazio. Porque eu também acredito que, apesar de querer toda a gama de sentimentos a que eu tenho direito, eu não sou boba o suficiente para ficar reforçando os que não são tão legais de sentir. Reclamar é tão somente isso. Valorizar o que acontece de ruim na nossa vida. Todos os dias, por pior que sejam, acontece pelo menos alguma coisa boa. Ainda assim há sempre quem prefira reforçar o negativo ao positivo. Não estou falando de ser irritantemente otimista, ou aquele papo chato de Polyanna. Tô falando que não é muito inteligente ficar reforçando o que a gente tem de pior. Assim como o Google, a vida reproduz os temas mais recorrentes, exibe em primeiro lugar os sites mais acessados. Então, aqui, eu baixei nova regra. Só reforçar o que for bom, o que for bonito, o que for gostosinho. O Mutley é uma gracinha, mas ele nunca terminou uma corrida. ;-)

Um comentário:

Matheus disse...

Não tinha nenhuma intenção de ler o texto que seguia a imagem que eu procurava apenas para um avatar de um jogo, porém comecei a ler e achei muito interessante o tema e, além do tema, a sua abordagem do msm me deixou ainda mais pensativo. Foi um bom texto e uma boa experiencia de leitura para mim, ainda mais que não estou tão acostumado a ler e, por isso msm, não escrevo tão bem quanto queria. Mas enfim, obrigado.