Sempre morri de rir com aquele cachorro vira-latas da Corrida Maluca. Ou quando ele e o Dick Vigarista perseguiam o pombo correio e
sempre dava tudo errado. Adorava vê-lo resmungando, e a risada rouca. O Mutley
é o rabugento mais icônico da minha infância. Acho que todo mundo adorava ele.
Na vida real o excesso de rabugice não faz tanto sucesso. Essa semana eu estava
escrevendo um post e depois de dois parágrafos me dei conta que eu só reclamava.
Dois parágrafos reclamando de como eu não conseguia cumprir as coisas que eu me
propunha, de como a alergia estava fazendo minha casa ficar repleta de
lencinhos de papel usados, de como a grana está curta, e o meu tratamento
dentário está ficando uma fortuna, de como eu não tenho vida social e me sinto
sozinha, e de como eu estou sempre, constantemente, irremediavelmente,
insatisfeita. Pensa só nisso! Vontade de jogar a pessoa pela janela do 15º
andar. Não existe nada mais chato do que gente que só reclama. Gente que está
sempre com algum problema, enfrentando alguma “adversidade”, sendo vítima de
alguma coisa. Eu mesma não tenho 5 minutos de saco para aturar gente que,
quando você pergunta se está tudo bem, responde “Tudo...”, então dá um profundo
suspiro e começa toda a ladainha e o mimimi. Nós vivemos em uma sociedade que
tende a engrandecer as agruras pessoais. “Ah, coitadinha! Passou por tanta
coisa!!!”. Quer saber? É um saco! Todo mundo tem uma certa dose de drama na
vida. Passar por dias difíceis ou experimentar tristeza, insegurança,
injustiça, traição não é exclusividade de ninguém. Nós viemos nessa vida para
viver exatamente essa experiência. Ser humano. E a experiência vem com uma gama
muito ampla de sentimentos que são incríveis de serem vividos. Então se você
está experimentando sentimentos negativos, que bom para você! Significa que a
vida está acontecendo de forma completa para você. E sim! Ela está acontecendo
de forma completa para mim. Tem épocas que é mais aventura, é mais como um
filme de ação. Tem outros que é romance daqueles que nos fazem sonhar no sofá
em dia de chuva. E tem momentos que é chata e monocórdica como um filme
iraniano (Ok! Até gosto de alguns filmes iranianos, mas vamos combinar que
cinema iraniazzzzzzzzzzzzzzzz). Claro que tem um grupo de sentimentos que a
gente não fica muito empolgado em sentir. Mas eu acho que a graça da
brincadeira é pintar o quadro com várias cores. Que a felicidade só acontece
quando existe parâmetro de comparação. Então eu apaguei o post e deixei o blog
vazio. Porque eu também acredito que, apesar de querer toda a gama de
sentimentos a que eu tenho direito, eu não sou boba o suficiente para ficar
reforçando os que não são tão legais de sentir. Reclamar é tão somente isso.
Valorizar o que acontece de ruim na nossa vida. Todos os dias, por pior que
sejam, acontece pelo menos alguma coisa boa. Ainda assim há sempre quem prefira
reforçar o negativo ao positivo. Não estou falando de ser irritantemente
otimista, ou aquele papo chato de Polyanna. Tô falando que não é muito
inteligente ficar reforçando o que a gente tem de pior. Assim como o Google, a
vida reproduz os temas mais recorrentes, exibe em primeiro lugar os sites mais
acessados. Então, aqui, eu baixei nova regra. Só reforçar o que for bom, o que
for bonito, o que for gostosinho. O Mutley é uma gracinha, mas ele nunca
terminou uma corrida. ;-)
Um comentário:
Não tinha nenhuma intenção de ler o texto que seguia a imagem que eu procurava apenas para um avatar de um jogo, porém comecei a ler e achei muito interessante o tema e, além do tema, a sua abordagem do msm me deixou ainda mais pensativo. Foi um bom texto e uma boa experiencia de leitura para mim, ainda mais que não estou tão acostumado a ler e, por isso msm, não escrevo tão bem quanto queria. Mas enfim, obrigado.
Postar um comentário