Acordei nocauteada por uma gripe. Daquelas que nos fazem ter
vontade de passar o dia em posição fetal. A ela se juntou uma tristeza aguda
que está me acompanhando há alguns dias. Tristeza e gripe. Duas coisas que
pedem cama, chá e colo. Estou pegando tudo isso e usando para um conto. Pelo
menos tentando arrumar algo de útil, para não virar tristeza por tristeza.
Fiquei pensando muito de onde vem a tristeza. Não sei. Sei que ela cutuca, o
tempo todo. Talvez venha da minha sensação de estar à deriva, de estar em vias
de desmoronar. Do quanto eu tento fugir da autopiedade do abandono. Ou talvez
seja tudo isso agravado pelas vias aéreas entupidas, o pulmão dolorido e o
paracetamol insuficiente. Hoje escrevi para uma pessoa querida, disse que não
sabia receber elogios. Nunca soube. Falta de prática. Não fui uma criança
elogiada, muito menos uma adolescente. Quando cheguei a idade adulta já havia
me convencido de que não precisava de elogios, e tinha aprendido a falsear
minha própria segurança. No geral o que as pessoas enxergam é uma mulher
metida, que não precisa de nada nem de ninguém. Arrogante até. Então bloqueiam
os elogios, como se eu já tivesse tido minha cota na vida. Então sinto pânico
de elogios, porque nunca me chegaram com sinceridade, ou sempre vieram
atrelados de segundas intenções. Parece tão patético. Eu sou aquela garota que
quer tanto ser a amiga, ser a companhia, ser amada; mas a quem nunca ninguém
disse que ama. Quem tem cabelo crespo sempre sonha em alisá-lo. É o que dizem. Às
vezes as pessoas querem nos machucar só porque não mostramos o quanto dói. Só
para ter certeza de que sentimos. Eu nunca fui boa com elogios. Também nunca
fui boa em gritar quando dói. Eu deito na cama em posição fetal, tomo uma sopa,
faço um chá e me entupo de paracetamol. Até o dia em que eu acordar e der para
respirar.
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