sexta-feira, 11 de maio de 2012


Acordei nocauteada por uma gripe. Daquelas que nos fazem ter vontade de passar o dia em posição fetal. A ela se juntou uma tristeza aguda que está me acompanhando há alguns dias. Tristeza e gripe. Duas coisas que pedem cama, chá e colo. Estou pegando tudo isso e usando para um conto. Pelo menos tentando arrumar algo de útil, para não virar tristeza por tristeza. Fiquei pensando muito de onde vem a tristeza. Não sei. Sei que ela cutuca, o tempo todo. Talvez venha da minha sensação de estar à deriva, de estar em vias de desmoronar. Do quanto eu tento fugir da autopiedade do abandono. Ou talvez seja tudo isso agravado pelas vias aéreas entupidas, o pulmão dolorido e o paracetamol insuficiente. Hoje escrevi para uma pessoa querida, disse que não sabia receber elogios. Nunca soube. Falta de prática. Não fui uma criança elogiada, muito menos uma adolescente. Quando cheguei a idade adulta já havia me convencido de que não precisava de elogios, e tinha aprendido a falsear minha própria segurança. No geral o que as pessoas enxergam é uma mulher metida, que não precisa de nada nem de ninguém. Arrogante até. Então bloqueiam os elogios, como se eu já tivesse tido minha cota na vida. Então sinto pânico de elogios, porque nunca me chegaram com sinceridade, ou sempre vieram atrelados de segundas intenções. Parece tão patético. Eu sou aquela garota que quer tanto ser a amiga, ser a companhia, ser amada; mas a quem nunca ninguém disse que ama. Quem tem cabelo crespo sempre sonha em alisá-lo. É o que dizem. Às vezes as pessoas querem nos machucar só porque não mostramos o quanto dói. Só para ter certeza de que sentimos. Eu nunca fui boa com elogios. Também nunca fui boa em gritar quando dói. Eu deito na cama em posição fetal, tomo uma sopa, faço um chá e me entupo de paracetamol. Até o dia em que eu acordar e der para respirar.

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