quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

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Cenário da corridinha de hoje cedo. Não é que se olhar no fundo, bem no fundo, Miami também tem suas coisas legais!?


De todos os lugares que já viajei, Miami é o que menos gosto. Na verdade acho Miami horrível. As pessoas são bregas, tudo exige uma mistura de cores tão forte quanto duvidosa. As unhas são postiças. Os cabelos também. A cultura de ostentação é tão intrínseca  ao estilo de vida deles, que todo mundo tem cara de novo-rico. Todo mundo tem cara de quem ganhou na Mega-Sena na semana passada e abandonou o puxadinho da casa da sogra em Guaianazes. Tão superficial e forçado, que cruzei até com uma Feira de Yatchs na entrada de Miami Beach. Um corredor de barcos escandalosamente luxuosos aportados em um dos canais, oferecendo champagne para os visitantes e exibindo mulheres de corpos perfeitos fazendo pose em biquinis. Clichê, clichê, clichê!  Mas tento mudar minha opinião. Ainda que eu não consiga me ver morando aqui nem em umas três encarnações, não gosto de condenar um lugar de vez. Há sempre algo de bom, e eu tenho por regra aceitar os lugares como eles são. Esses dias tenho dirigido para cima e para baixo procurando coisas para gostar aqui. Tem o mar, que fica pertinho, e canais, e árvores. Isso dá um ar muito gostoso a qualquer cidade. E as ruas são muito largas, tem muito espaço para onde quer que você olhe. Isso também é uma coisa legal. Mesmo com o trânsito - que é constante e em todo lugar - a gente não se sente clautrofóbico. O quarteirão art deco também é uma coisa linda. Pena que a fauna me dá pavor, mas aqueles prédios são tão lindos, que parecem cenários. Acho um tesouro. Embora eu tenha muito mais motivos para não gostar do que para gostar de Miami, ainda assim é o lugar mais perto, mais barato e mais prático quando precisamos fazer compras. Aqui tem uma Diver’s Direct, que é uma megastore de roupas e equipamentos de mergulho. Vários outlets. Fica na costa, então dá até para arriscar ver uns tubarões ou recifes de corais. Então Miami é isso. Conveniente. O hotel que reservei fica uma quadra da praia, e de um parque perfeito para minhas corridinhas matinais. Para eu ir já amaciando os novos tênis de corrida (Compro um por ano, sempre aqui. Sempre da Brooks.). Atravessei a rua e comecei a correr pela pista do pequeno parque. Sim, não é muito grande. Cerca de 1K de comprimento, bem a beira mar. Tinha algumas mesas de picnic, playground para crianças e uma área reservada especialmente para cachorros, com divisão para cães de pequeno e grande porte. O mais legal foi cruzar com as pessoas correndo. Velhinhos fazendo suas caminhadas matutinas, grupo de amigas correndo e tagarelando, executivos e seus personal trainners. Apesar de ser inverno, tem feito 26-28o todos os dias. À noite cai para 21o, mas ainda bem confortável. Um clima bem agradável. A gente começa a entender melhor uma cidade quando enxergamos como seus moradores a ocupam. Foi muito bom ver gente de verdade na rua, fazendo exercícios. Tinha uma imagem de que em Miami ninguém anda à pé. Estão sempre em seus carros, sugando água açucarada por canudinhos e ouvindo R&B. Existe uma Miami que é cheia de qualidade de vida. Admiro quem sabe ter qualidade de vida. Quando atingi os 5K uma chuva forte caiu fazendo as pessoas fugirem do parque. Eu ainda corri 1/2K antes de me dar conta de que era chuva, molhada, fresquinha, e que fazia muito tempo que eu não sabia o que era ficar molhada de chuva. Parei de corre, olhei para o céu, deixei a chuva cair na minha cara. Fechei os olhos até sentir que estava mesmo enxarcada. Depois, fui andando devagar de volta ao hotel, com um sorrisão molhado no rosto. Miami continua sendo feia, cafona, superficial e de mal-gosto. Mas já descobri que, quando for preciso, é possível achar pequenos momentos em que a vida é autêntica ainda por aqui. 

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