domingo, 16 de fevereiro de 2014

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Vi uma exposição (muito boa por sinal) da Tracey Emin na White Cube Gallery em São Paulo. É aquele tipo de arte extremamente perturbadora pela honestidade e capacidade de exposição da artista, e ainda pela fragilidade que ela adquire em sua loucura. Tracey é uma dessas mulheres com as quais a gente se identifica de imediato. Primeiro porque ela está lá, nua, literalmente, passando gilete em todas as feridas, não deixando barato tudo o que é ser mulher nessa vida. Embora eu tenha milhões de reservas com discursos feministas, esse é um tipo de ativismo que eu acredito. Porque não dá para ficar ileso, indiferente, vendo suas instalações, enxergando sua carência e sua ferocidade em neon. Ser mulher é meio isso. Essa grande contradição entre ser vítima e algoz. Entre a fragilidade impotente e a fúria destruidora. Vi que o MOCA (Museu de Arte Contemporânea de Miami) estava com uma exposição dela, e fui conferir. Não era tão interessante quanto a que vi em SP, e as peças se restringiam basicamente aos neons. E uma instalação, desconcertante. Uma narração em audio, com uma tela em estática constante, em que Tracey fala de sua adolescência, da liberdade sexual que se atreveu a assumir em uma comunidade machista e limitada, e a castração sexista que sofreu por ousar ser livre. É enternecedor, ao mesmo tempo um tanto revoltante. Quando pensamos o quanto as pessoas são crueis com aquelas mulheres que ousam lidar com a própria sexualidade livremente, e ainda, quando nos damos conta da nossa própria covardia em fazer o mesmo. 

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