quinta-feira, 11 de março de 2010

CHOQUE TÉRMICO

Foi um grande choque térmico minha primeira semana em Portugal. Passei muito frio. Um susto por não haver calefação em todo lugar como em NY. Susto de pensar vinte vezes por dia “Eu não tenho mais casa”. Eu tenho andado muito confusa. Agora já vai mais de um ano, bem confusa. E sempre que eu penso que estou começando a entender alguma coisa, tudo desmorona e me fundi a cabecinha novamente. Então estou chegando à conclusão que não é para ser. É para deixar tudo confuso mesmo. Então melhor assim. Tive muita dificuldade para entrar no horário. São poucas horas de diferença, mas foi muito difícil para mim. O sono regularizou, então foi meu computador que quebrou. E computador legal, é aquele que quebra de verdade. Ele não dá pau no software, não senhor! Ele pifa bem em alguma pecinha (que até deve ser muito simples), mas que ninguém quer por a mão porque é hardware, e hardware é uma coisa quem na linguagem de assistência técnica significa enviar meu computador para o mundo de Nárnia. Eu conto a saga do computador em outro post, que até acabou tendo um final feliz (não para os meus Euros… meus míseros Euros…). Então com o meu computador chiando feito cuica em carnaval, eu conheci pessoas muito interessantes. Patrícia e João, um casal encantador e lindo. (Meu Deus! Eles vão ter filhos lindos!) E João é um artista realmente intrigante. Passei a noite pensando nas telas dele. Hugo está virando um anjo da guarda. Ele é tão gentil comigo que eu até me sinto constrangida. Me dá bom dia todas as manhãs pelo FB, me enche de dicas de passeios (que eu preguiçosa ainda não fiz nenhum), e ainda me carregou até Matosinhos na saga da assitência técnica da Sony. Para piorar, ele ainda ouve todas as besteiras que eu digo e acha graça. Achei que teria alguma vantagem na mesa de poker que carol e viriato frequentam. O poker que eles jogam não é o mesmo que eu jogava lá. Eles excluem as cartas baixas como no truco e até aceitam um jogo com 4 cartas (!!!). Não saí da mesa nem empatada com o buy in. Uma verdeira vergonha para uma aspirante a profissional. Humpf! Então fiz planos. Porque eu sou uma pessoa que adora fazer planos. Ia viajar para Braga, Guimarães, talvez Coimbra essa semana. Ia à Ópera na terça. Começar de vez a minha exploração. Mas na segunda-feira à noite deito estranha com dor no corpo. Acordei nocauteada por uma virose completamente inexplicável. E me senti péssima. Não apenas porque 38º de febre é uma coisa que me deixa bem derrubada, mas também porque meu intestino se liquifez por 3 dias. Dizem que esse é o tempo padrão de qualquer virose. 3 dias. A minha foi bem padrão também. Eu não tinha diarráeia desde o tempo que eu precisava de ajuda da minha mãe para esse tipo de coisa, mas como eu acredito que em tudo na vida a gente pode escolher ser uma boa experiência ou uma má experiência (Tudo! Tudo mesmo!!!), eu escolho tranformar 3 dias de diarréia em uma experiência incrível e agradeço aos céus pelos kilos que eu finalmente consegui eliminar e que nem a pholia magra deu jeito! Os planos de começar a explorar foram adiados. Fico tensa pela Carol, que além de receber uma maluca que ela não via há 16 anos, ainda tem que aguentar a garota passando mal na sala deles. Então hoje eu saí para um dia lindo de Sol. Sem me sentir tão afetada pelo clima. Aceitando o frio. Eu ainda tenho dificuldade com o sotaque lusitano. Tenho sempre a sensação de que vou ser mal-compreendida. Ainda não entendo o que estou fazendo aqui. Ainda não entendo o que estou fazendo do outro lado do Atlântico. O que vim buscar. Mas olhando a estranheza da cidade hoje pela janela do autocarro cheguei a conclusão de que eu não tenho de entender. Que meu corpo purgou tudo que eu fiz em um susto em fevereiro. E que agora eu posso realmente começar a viagem. Estou em uma crise que não vai passar tão cedo. Me entregar a ela pode ser a coisa mais libertadora que eu possa fazer. Talvez também a única coisa de que eu sou capaz. Tudo daqui para frente será estranheza. Eu tenho sempre a opção de me maravilhar com o estranho. Tenho milhões de conselhos queridos de para onde eu devo ir. Todos eles eu sei que feitos com amor e certa nostalgia. São pessoas que querem compartilhar comigo experiências que foram incríveis para elas. Eu sou muito grata por ser rodeada de tanto amor. Mas eu acho que agora se inicia uma época de incerteza. De não fazer planos. De maravilhamento com a estranheza. Acho que agora, finalmente, cheguei ao ponto de partida.

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