quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

DESENVOLVENDO

Nossa, hoje estou tão cansada, que fico pescando enquanto escrevo email. Melhor poder de síntese do mundo. Sono. Então o post també vai ser bem sintético (o que não é nada o meu estilo. Escrevo capotando de sono, mas escrevo.) Hoje metade da minha turma da manhã faltou. Me deu uma tristeza. Um misto de culpa e mágoa. Eu sei que as crianças ficam doentes o tempo todo, porque são desnutridas, a temperatura mudou. Então é um festival de febre, tosse e dor de estômago. Mas metade da sala? Comecei a me sentir responsável. Eu sempre me sinto responsável. Comecei a pensar que se, eu estava tão rouca semana passada, talvez estivesse com algum vírus que não se manifestou em mim porque eu sou mais forte. E comecei a tremer com a idéia que eu possa ter passado algo para as crianças. Um outro lado meu estava apenas no velho “mode-auto-piedade”, achando que as crianças não tinham vindo porque detestam minhas aulas e não querem me ver. Dramma queen, eu sei. (Além de egocentrino no último imaginar que eu sou o centro das atenções das crianças.). Mas o que eu adoro nos dias e na vida é que eles são ciclicos. Momentos vêm e vão e eles tendem a se sobrepor. À tarde, Esbin me trouxe uma flor e Hector me repetia a cada cinco minutos, “És buena, seño. És muy buena.” É muito legal ouvir de alguém que a gente é boa. Nem que seja de alguém com 6 anos de idade. Coisas que você descobre sobre a Guatemala somente quando está borocoxô. A diferença entre um País de Terceiro Mundo e um País em Desenvolvimento. Eu sempre torci o nariz para essas classificações porque já estive em buracos do Brasil que me fazem ficar cética com esse papinho de “em desenvolvimento”. Soa como se fosse um prêmio de consolação. De qualquer forma, lá estava eu na “La Bodegona”, o maior e principal supermercado  da cidade ( que na verdade tem cara de mercado de bairro do Capão Redondo. Todo os outros comercios são “tiendas”, pequenas vendinhas de esquina (pequenas mesmo) com um pouco do básico e grades do chão ao teto antes do balcão. Só para a gente lembrar que não está mais no Kansas, Dorothy! Eu fui vasculhar todas as prateleira de chocolates, doces, porcarias para preencher meu vazio existencial com açúcar e gordura trans. Acontece que a indústria é tão atrasada que o que existe nas prateleiras são uma infinidade de produros duvidosos. Umas balas estranhas, bicoitos duvidosos e os chocolates parecem como velas aromáticas  do que para comer em si. A oferta de produtos e a variedade é deseperadora, e as embalagens  são enormes para atender as famílias numerosas e garantir preços mais acessíveis. Nada com cara apetitosa, de se melecar e lamber os dedos. Daqueles que de tão doces, cortam a língua e atraem formiga se você esquecer em cima do tambo da pia. É estranho ver essas diferenças que a gente nem imaginava que sentiria. Me dá a sensação de viver no passado, numa época em que o mercado não era aberto e a industria nacional primária. A opção de marcas é mínima, os importados quase nulos. E a burocracia, a gente sente no ar. Mas isso é porque o olfato está apurado para esse tipo de coisa. A gente está se desenvolvendo, mas com duas vias assinadas e registradas em cartório. Acabei comprando um estoque de lanchinhos para segurar as ondas de hipoglicemia. Acho que estou ganhando peso. Dormir agora. Rezar para meus alunos não fugirem de mim amanhã. Parar de digitar de olhos fechados. A noite já veio com mais notícias de apoio e a gente vai descobrindo que talvez não tenha sido tão dura assim e que mais gente pense como a getne. Vou decidir o que fazer no final de semana. Talvez algo que envolva muita adrenalina. Talvez eu apenas passe mais tempo em Antigua (fico a semana inteira no esquema casa-projeto-projeto-casa). Talvez seja uma boa idéa explorar a cidade um pouquinho.

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