quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

SILÊNCIO

Ando folgda. Confesso. Agora que tem outro voluntário, larguei todo o planejamento de aulas nas mãos dele. Virei as costas e fui tomar uma cerveja. Verdade. Fui mesmo. Estou tão cansada que todo dia quando sento para escrever aqui saem milhões de errinhos. Vou ver depois, mas dá uma preguiça ficar consertando. O teclado do netbook também é estreito, então cansa mais o punho. Dá preguiça e eu fico relaxada. Ando com uma fome danada também. Tive alguns casos de hipoglicemia (o que não me acontecia há algum tempo). Então agora eu estou parecendo uma gorda carregando comida para todos os lados. Sempre com alguma barrinha, chocolate, salgadinho, fruta. Qualquer coisa para evitar que eu comece a tremer como quem tem Parkinson. Não contei, mas tive uma no meio da trilha do Acatanango. Foi por estupidez. Estava andando há umas 3 horas já, só com o café da manhã que tinha sido antes de sair de Antigua. Bingo. Detesto quando o meu corpo me faz fraca. Minha turma anda insandecida essa semana no projeto. É um tal de se baterem, não sei mais o que faço. Hoje José deu um soco no estômago de Irma. Tudo bem que Irma não é fácil. Mas a menina estava quase vomitando. Ficou tossindo e cuspindo. Em seguida foi Danilo que virou um tapa em Marisol. Juro. Cinco minutos depois. Eu até entendo que essas crianças acabam lidando com agressividade porque é o modelo de comportamento que recebem. Mas que loucura. E me consome tanto. Dai vira assunto para os internos. A minha interna é a Phoebe, que é uma garota novinha, muito boazinha e cheia de boas intenções. Mas princesinha demais. Sabe aquelas pessoas que querem sempre agradar, que não conseguem ficar em uma posição em que não sejam o centro das atenções e amadas por todos? Tipo isso. Daí quando acontece um incidente grave como esse ela tem tanto medo de ser dura com as crianças e eles não gostarem dela, que ela passa a mão na cabeça e deixa eles fazerem o que quiserem. Vê se tem cabimento? Neguinho sai espancando os outros, começa a chorar porque vai ser levado para os internos e chegando lá, em vez de ter uma conversa séria sobre seu comportamento, a interna pega no colo, dá beijinho, abraça, chacoalha, mima bastante, e ainda fica perguntando se a criança “está brava com a professora”!!! Depois vem com discurso passivo-agressivo de que “a gente precisa entender que essas crianças passam por tanta coisa, eles sofrem tanto, tadinhos, a gente não pode ser tão dura com eles”. (Tão dura? Até parece que quem estava esbofeteando as crianças era eu!) Ah! Eu também vou sair esmurrando o povo para ser paparicada! Mas hoje falei para ela, que mimar aquelas crianças era egoísmo dela, que ela estava mais preocupada com os sentimentos dela do que com a formação do caráter deles. E que eu achava que o comportamento dela era nocivo para as crianças e enquanto eu estivesse aqui eu ia proteger meus alunos dela. Ai, ok! Eu preciso ser um pouco menos dura com os outros. Pode até ser que eu tenha pegado um pouco pesado com a rainha do baile. Mas engraçado que ultimamente não me sai da cabeça aquela frase do Martin Luther King: “History will have to record that the greatest tragedy of this period of social transition was not the strident clamor of the bad people, but the appalling silence of the good people.” Eu tenho sentido uma responsabilidade imensa ultimamente de não me calar quando considero que algo está errado. Não estou falando especificamente da Guatemala ou desse projeto. Mas de posicionamento de vida. Claro que todo mundo gosta de agradar. Todo mundo gosta quando gostam da gente. Ninguém quer ser considerado “encrenqueiro”. Mas silêncio eu guardo na minha alma para ocasiões especiais. De resto eu falo. Porque calar, para mim, é cumplicidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Silêncio, por favor, enquanto escuto um pouco a dor do peito", já disse o Paulinho da Viola. Silêncio é para a gente.