quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

GUATEMALA - DIA 3

Nada como um dia depois do outro, não? Quase não faz sentido nenhum. Um dia puro caos, no dia seguinte parecia até que as crianças tinham tomado ritalina. A aula foi perfeita. Estamos retomando a alfabetização do zero, e as crianças responderam tão bem. Estavam concentradas, dinâmicas, participativas. Fizeram os exercícios lindamente, e os cadernos, uma graça! Depois ainda fizeram bilhetes e cartões de “regalo” para uma das voluntárias que estava indo embora hoje. No final de cada período, todas as crianças se concentraram no pátio (um pedaço de terra batida que fica no meio dos barracos de madeira onde damos aula) e, uma por uma, foi se despedir de Katie. Eu estou aqui não faz nem uma semana e chorava como uma boba de ver aquelas crianças abraçando e beijando a americana de 18 anos que resolveu vir para a Guatemala em seu Gap Year. Alguns entravam na fila duas, três vezes, para beijá-la e abraçá-la. E diziam que a amavam. “Yo te amo Seño Katie”. De matar. Eu morrendo de orgulho das minhas classes, que estão respondendo às regras de disciplina. Estavam todos organizadinhos, sentados educadamente, aguardando sua vez de se despedir. No final do dia recebi milhões de elogios da equipe. Sarah veio me dizer que eu era uma “star”, e uma outra interna do programa me disse que nunca tinha visto as crianças obedeceram tão prontamente um voluntário antes. Fiquei embasbacada. Eu achando que estava afundando irremediavelmente, e como em um passe de mágica está tudo certo. Meu terceiro dia no projeto, e acho que estou conquistando o respeito dessas crianças. Verdade que cada turma tem os seus. No período da manhã tenho a dupla dinâmica Oscar e Irma. Eles são inteligentes, rápidos e terríveis. Oscar hoje tirou o dia para me desafiar. Se jogava no chão e quando eu pedia para ele sentar-se direito, olhava bem para minha cara e dizia “No!”. Cara! Que desespero. Então eu olhava muito séria para ele e dizia “No estoy pedindo para se sente, estoy DICENDO que se sente.”. Rolava alguns segundos de silêncio, em que eu secretamente tremia com a idéia de que ele não cedesse e eu perdesse completamente a autoridade na sala. Então ele se levantava e se sentava. Internamente eu respirava aliviada. É verdade que crianças testam limites, e é saudável que façam isso, mas putz! Eu não fazia idéia de que tão difícil. Como as coisas parecem que começam a entrar nos trilhos, consegui planejar as aulas para o restante da semana. E recebi a maravilhosa notícia de que não ficarei sozinha com a sala na próxima semana. Teremos uma interna voltando e que dividirá a sala comigo. YEAH! Tem me incomodado ainda não ter tempo para nada. Ou talvez isso seja muito bom. Não sobra tempo para ficar pensando em coisas que não devem ser pensadas. De qualquer forma mudei o horário da minha aula de espanhol. Eu chegava do projeto e tinha de ir correndo para o espanhol, sem tempo nem de fazer xixi. Depois corria para casa, tomava banho, jantava, preparava aula. Quando via, era quase meia noite, e eu ainda queria escrever aqui. Sem perceber lá se foram todas as horas do dia. Hoje fui para o espanhol meia hora mais tarde. Deu tempo de chegar de Itzapa, sentar no café com o pessoal. Jogar papo fora. Tomar um café enorme, descansar um pouco. E então ir com calma, aprender verbos irregulares em espanhol. Como fico o dia todo falando em espanhol com as crianças, tenho a sensação que já estou fluente em menos de uma semana. Claro que para quem fala português, nem é um grande feito sair falando espanhol tão rápido. Mas eu sou uma pessoa que sempre odiou essa língua. Sempre achei que nunca conseguiria falar espanhol. Agora, vindo pelas vozes guatemaltecas, o espanhol e eu estamos fazendo as pazes. Comprei um livro de gramática, estou estudando quando sobra um tempinho. As vozes na minha cabeça estão todas “hablando”. Quem diria! Yo hablando español! Quando você está no lugar certo, fazendo a coisa certa, parece que o universo se escancara de oportunidades. Faz com que tudo flua rápido, verdadeiro, sem esforço. Se a coisa continuar nesse ritmo, eu resolvo o que eu vim resolver em mais dois dias e fico pronta para voltar para casa no final de semana.

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