"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
quinta-feira, 1 de julho de 2010
EM ROMA, COMO...
Tenho estado na estrada a um tempo considerável. Existem algumas coisas que ficam enraizadas. Que a gente até se acostuma. Saudades é uma delas. Tenho tantas saudades de tanta gente, que já nem sinto mais. Mas de vez em quando, tem uns dias que dói mais. Que bate mais na alma. E dá vontade de chorar. Hoje por exemplo foi um dia desses. Uma saudades doída. Que me fez chorar, surtar, comer chocolate e fumar um cigarro. Saudades da Geisa. Minha manicure. Explico. Chegamos em Aux en Provence na terça. Caí de amores pela cidade instantaneamente. Hoje depois de caminhar pelas ruas, tirar fotos, quase derreter embaixo do calor, eu queria muito ficar um pouco sozinha. Tirar uma horinha só para mim. Eu gosto de S. Gosto mesmo. Mas à vezes não aguento mais olhar para a cara dele, então eu fujo. Vou tomar um café. Vou escrever meu diário em algum lugar. Hoje larguei ele sentado em uma boulangerie com ar condicionado e fui procurar uma manicure. Gente, eu precisava me sentir mulher! Nem lembro mais quando minhas unhas viram uma profissional. Quando o esmalte foi bem aplicado e não descascou horrorosamente depois de um dia. Depois de tanta aventura, trilha, corredeira. Ficar descabelada debaixo de chuva. Eu queria muito um Dia da Noiva. Sabe aqueles dias que a gente tira para dar uma geral no salão? Fazer pé, mão, depilação. Mesmo porque eu gosto de S. Mas quero que ele continue gostando de mim. E mulher é mulher. Precisa manter o charme, manter o mistério. Então lá fui eu, em busca de uma manicure francesa. Vou dizer uma coisa, antes de tudo. Esse tipo de serviço aqui é caro. Bem caro. Tipo, três vezes mais do que eu pago no Brasil. Mas eu estava afim de uma extravagância. Cheguei no salão. Que aqui não é salão, porque os salões de cabelereiros não possuem manicures não sei porque. Quem faz cabelo, faz cabelo e mais nada. Quem faz unha, faz unha, depilação, massagem, bronzeamento... Eu chego no salão e depois de me matar com meu Francês Tarzan sou informada que há uma espera de 30 minutos para ser atendida. Ah, ok! Vou dar uma volta e venho no horário marcado... Não Senhora! Espera de 30 minutos no local. Senão perde a vez. Humpf! Sento ao lado de uma adolescente, e uma mulher de 40 (cor de laranja de tão bronzeada). Espero, espero. Me chamam. “Ah! Sim! Gostaria de fazer depilação do buço, manicure e a beautè de pièds (é o jeito chic de dizer pedicure por aqui)”. Me levam para uma cabine. A depilação do buço foi ok. Do jeito que estou acostumada no Brasil. Então vem a parte tortura-você-está-sendo-assaltada. Entra na cabine uma pós-adolescente loira, maquiada de sombra verde (Deus! Que moda é essa de sombra verde por aqui...!). Bota meus pés em uma bacia que fica borbulhando (Hum! Gostoso!) e começa a fazer minhas mãos. Vou explicar como é o sistema de manicure por aqui. Ela pega uma lixa e passa 3 vezes em cada unha (TRÊS!!!!!). Depois ela coloca um monte de hidratante, enrola um pouco de algodão no palitinho de madeira e fica esfregando o palitinho com hidratante nas cutículas até todas as peles serem varridas para debaixo do tapete. Então ela pega o alicate e encosta (LITERALMENTE ENCOSTA!!!!) em cada lado da unha e TCHARÃ!!!! Manicure feita. Pincela uma base com bastante cuidado para pegar só a unha e não borrar (porque se borrar ela não vai limpar), e lá vamos nós para os pés. Ok. Uma pausa. Eu costumava ser bem viciada em manicure em São Paulo. E bem viciada em podóloga também. Então nessa altura do championship eu já estava surtando na maca de imaginar a qualidade do serviço da moça chegando aos pés. Ela tira meus pés da bacia borbulhante e faz exatamente a mesma coisa que fez nas mãos, só com uma diferença. Nos pés não rola lixa e ela nem finge encostar o alicate. Daí eu estou vermelha, bufando, soltando fumaça pelo nariz. E sem domínio Tarzan suficiente para soltar uns esporros em todo mundo laranja daquele salão. Visto minhas sapatilhas nudes (aquelas que foram arrasadas pela chuva em Veneza) e me arrasta com raiva e indignação até o balcão para pagar. A adolescente de sombras verdes digita umas coisinhas no computador, me informa que será cobrado um extra pela aplicação de esmalte nas mãos (CUMA?) e.... OK! Não vou dizer o valor astronômico, indecente e revoltante que foi debitado do meu cartão de crédito essa tarde. Não vou. Nem sob tortura. Juro! Tenho vergonha! Voltei para a boulangerie querendo trucidar o primeiro que eu encontrasse. E o primeiro que eu encontrei foi S. Ele veio tentar me consolar e eu grunhi “Nem encosta!!!”. Comi um pain au chocolat, um donut de chocolate e ainda fiz o coitado dirigir até o supermercado antes de voltarmos ao hotel para me comprar uma cerveja bem gelada. Tá com dó do moço? Pois fiquem sabendo que ele fez tudo isso rindo da minha cara. “Sorry, dear! You look so funny when you are grumpy...” Pior é que eu sei que ele tem razão. Viro um clown quando estou de mal-humor. Vou falar uma coisa. Eu tento, verdade que eu tento me adaptar a cada lugar. Fazer como diz o ditado, “Em Roma, como os romanos.” Mas posso pedir uma coisa? Enquanto eu estiver na França, será que rola uma manicure brasileira?
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4 comentários:
Linda acho q damos mais valor a essas coisas qdo nao estamos no Brasil... lembra como eu queria tanto fazer as mãos em Dublin (pq com aquele frio nao tinha mão que aguentasse!)... agora q estou no Brasil dificilmente vou a manicure... dou uma cortadinha, passo a lixa (com menos cuidado q a francesa de sombra verde!! rs) mas acho q é pq sei q num momento de pânico é só correr em qq um dos 10 salões ao redor de casa que alguém me socorrerá com tudo q tenho direito e sem cobrar extra pela pintura!! haha Se cuida mocinha!!
A verdade é que estamos muito mal acostumadas. Achei uma manicure decente aqui em Singapura, mas todas (TO-DAS) quando passam o esmalte (desse jeito q vc falou, pra não borrar) limpam os excessos dos cantinhos com A PRÓPRIA UNHA de gavião. É uma sensação horrível!
Mas enfim, pelo menos quebra o galho...
Nem imaginas como me identifiquei com este teu post. Passei praticamente 3 anos a praguejar e a desejar manicures brasileiras!! É caro, é mal feito e sim ficamos revoltadas hahaha.
Já tive a oportunidade de te dizer isso, mas eu aqui não posso, de jeito nenhum, fazer as mãos e os pés uma vez por semana como fazia no Brasil e vou te contar uma coisa: AI QUE SAUDADES!!!
Nunca me esqueço a primeira vez que fui a manicure aqui. Basicamente a mesma coisa que te aconteceu, com a diferença que eu podia barafustar, pois a língua é a mesma e sabe qual foi o resultado? Sai ainda mais brava hahahaha.
Até hoje não tenho manicure fixa, juro que o dia que encontrar uma brasileira (e aqui dizem não ser mto difícil, mas até hoje não encontrei) não a largo mais :))
oi...sou brasileira e vim para a italia em busca de trabalho na aerea de manicure/pedicure, cabeleireira, maquiadora, design de sobrancelhas, e pretendo morar em roma...mas ta tao dificil de achar um lugar para trabalhar, parece que nao tem emprego nessa area pra mim...pois nao acho saloes para trabalhar e nao conheço ninguem para que possa fazer homecare...
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