quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ELEGÂNCIA E MORTE

Estou em um bom humor insuportável. Eu sei bem o que você vai dizer. A pessoa precisa ir para Ilha de Marajó para ficar bem humorada. Em minha defesa vou dizer que podia ser pior. Eu poderia ter ido para Marajó e ficado rabujenta. Quem me conhece sabe que isso é possível. Mas não. Estou bem humorada e feliz da vida. Nenhum acontecimento extraordinário, só que eu acho que é melhor ser otimista e feliz. Dá muito menos trabalho. Então eu estou sendo prática. E egoísta. Ficando bem humorada visando única e exclusivamente meu bem estar pessoal. HAHA! Hoje eu acordei e tomei um café da manhã saudável. Resisti à tentação de encher meu prato com rabanada e essas coisas gordas que hotéis adoram colocar no buffet. Só não resisti a fatia de queijo de bufala fresquinho que parecia um requeijão de tão macio. Joguei um monte de geléia de morango em cima e resolvi que aquele ia ser meu pecado do dia. Depois saí para uma caminhada na enorme faixa de areia da praia que fica em frente ao hotel. Praia particular, quase deserta. Um vento gostoso disfarçando a temperatura que subia astronomicamente ao longo da manhã. Andando descalça e deixando meu cabelo se emaranhar. Fiquei tirando fotos de um bando de abutres comendo carcaças de peixes que as ondas do rio traziam para a praia. A gente estava tão perto da foz que o rio nesse trecho tem ondas, praia de areia e água salgada. Para mim é mar. Depois fiquei olhando as fotos e pensando que algumas pessoas achariam pesadas fotos de aves de rapina comendo carniça. Realmente a gente sempre associa a visão de um abutre ou de um urubu com morte, lixo, doença. Tudo de ruim que vem a mente. Mas eu só tenho conseguido ver beleza com esses meus novos olhos de fotógrafa. Enquanto eu estava agachada atrás de um tronco, apertando enlouquecidamente o disparador da minha câmera, eu fiquei pensando como a natureza é mesmo incrível. Como ela pensou em cada mínimo detalhe, inclusive na faxina das praia caso o mar trouxesse corpos de peixes do mar. Que aquelas aves, que nem são fofinhas como o filhote de coruja que apareceu no jardim ontem, possuem um papel vital dentro do ballet da vida que a gente insiste em bagunçar. São aves grandes, que ficaram um pouco desconfiadas com a minha presença ali em volta. Mesmo eu ficando quietinha, quase imóvel atrás de um tronco, elas se alternavam para comer o peixe e me vigiar de longe. Depois alguns turistas apontaram na orla e elas todas levantaram vôo juntas. Perdi essa foto porque fiquei babona olhando aquelas aves de asas compridas cortando o ar e compondo um quadro tão bonito com o céu azul, as nuvens e a cor da água. As penas nas pontas de suas asas são mais longas e grossas. Quando elas voam essas penas se abrem em cinco como se fossem dedos de bailarinas. É tão lindo! Ok! Eu sei. Estou falando da elegância dos urubus. Talvez isso soe meio estúpido mas eu não me importo. Gosto de pensar que a vida é assim. Toda elegante. Ah! Antes que eu me esqueça, porque acordei pensando em escrever isso aqui. Sonhei que alguém tinha assassinado o Lula! Hahahah! O dia cheio de boas notícias. No meu sonho a Dilma já estava morta há alguns dias, então eu estou no metrô de SP (olha só. EU no METRÔ!) e vem a notícia de que o presidente Lula tinha sofrido um atentado e morrido. No meu sonho eu tinha uma urgência em chegar em algum computador, porque de alguma forma minha função era noticiar, mas eu estava feliz pra burro. Ai, eu não tenho jeito. Começo o post celebrando a vida e a imbecilidade de estar feliz e bem humorada, para terminá-lo desejando a morte do presidente. Quem sabe uma coisa está ligada a outra? Talvez meu sub-inconsciente acredite que felicidade e bom humor funcionem bem em um mundo em que o Presidente Lula e sua duvidosa sucessora não existam.

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