Comprei um buquê de flores para colocar no vaso em cima da mesa da sala. Um buquê de astromelias roxas que alegraram o ambiente por um par de dias. No final de semana começaram a despetalar. Engraçado que elas não murcharam, não perderam a cor. Simplesmente se despetalam aos poucos quando eu não estou olhando. Cada vez que passo por elas, recolho um tanto de pétalas mortas caídas sobre a mesa e jogo no lixinho da pia. Elas ainda parecem com um buquê, mas eu sei que os dias estão contados. Que em pouco tempo todas as pétalas ter-se-ão ido, e o que sobrará será um punhado de caules embolorados em uma água turva. Fico pensando em qual foi o exato momento que o buquê deixou de ter vida. O instante em que esse processo todo se iniciou. Aquele limite sem volta em que o vivo e vistoso condenou-se irreversivelmente ao destino árido de um vaso morto. E cheguei a conclusão que eu mesma não notei quando minha primeira pétala caiu sobre o tampo de madeira. Nesse final de semana me despetalei. Sem dor nenhuma. Como quando uma rajada de vento joga ao chão as pétalas soltas de astromelia da alma. Elas já estavam soltas, só precisavam de algo que as desprendessem. Seja o vento, seja a gravidade. Pétalas soltas caem. Agarrar-se à ilusão de que ainda são flores não vai fazer delas um buquê. Perdi a confiança em todo mundo que conheço. Não é um exagero. Perdi a confiança na minha família, nos meus amigos. Naqueles que eu tinha certeza que eram amigos. Amei tanto a beleza de um vaso florido, que nem percebi que ele não é mais vaso, não é mais flor. Ainda amo, embora não saiba o que eu ame. Não sei se amo a idéia de astromelias, ou se sou capaz de amar o lixo orgânico que elas se tornam. Confiança é uma pétala. Quando ela se desprende, nunca mais será flor novamente. É possível amar sem confiar?
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