Amor é o meu tema favorito. Em todas suas formas e variantes. Falo, persigo, busco. Tanto que cruzei, literalmente, um oceano inteiro em busca dele. Houve momentos que o senti tão perto, como se roçasse meu nariz e me fizesse espirar. Mas também há os períodos negros em que tudo é árido de sentimentos. Hoje eu estava trabalhando, lendo um artigo ótimo sobre amor e me toquei que, às vezes, não é questão de encontrar o amor, mas de encontrar nós mesmos. Então eu parei por um segundo e admiti que ainda há muito em mim que não me pertence. Há muito em mim que é vício, é trauma, é medo. E é impossível cultivar amor em solo pouco fértil. Ele vai sempre roçar meu nariz se eu não permitir me desnudar verdadeiramente em vez de fingir que vivo experiências que não são reais. Os últimos meses foram talvez os meses de maior disponibilidade de autoconhecimento que já tive na vida. A dolorosa constatação da minha imperfeição. O sentimento de traição daqueles em que eu mais depositava afeto e amizade. Enfim me encontrei desarmada. Face a face a minha verdadeira realidade. Sem auto-piedade. Sem comiseração. Somente a pessoa real que eu sou, e que não é perfeita, e nunca vai alcançar meus delírios de perfeição. Eu não tenho amigos de verdade. Eu não confio mais no meu terapeuta. Eu não tenho uma família que eu possa deixar que se aproxime. Eu não tenho uma profissão. No final, essas eram as únicas certezas que me sobraram na virada do ano. Essas e a certeza de que eu estou sozinha, nasci sozinha e vou morrer sozinha. Acho inclusive que aceitar esse fato imutável pode ser bastante libertador para qualquer pessoa. Você está sozinho! Então caem todas as obrigações inconscientes de ser perfeita, de agradar quem me rodeia, de ser amada... Ser amada. Eu que busquei tanto o amor, nunca me senti amada. E me vendo sozinha, do jeito que eu tinha nascido, percebi enfim que a única pessoa que poderia me amar era eu mesma. Mas não da boca para fora. Falo de perceber de verdade. Não de discurso de auto-ajuda: “O importante é se amar!”, “ninguém vai te amar se você não se amar”. Isso é besteira. É abstrato. Eu só serei amada pela única pessoa que faz parte do meu universo, e não acho que eu seja capaz de explicar isso aqui. Então eu tomei a decisão mais séria da minha vida. Resolvi virar a namorada de mim mesma. Pular de cabeça, como eu fiz com todas as outras pessoas que passaram na minha vida, no único relacionamento que eu deveria ter me dedicado desde o princípio. Antes de pensar em ter qualquer outro relacionamento. Antes de me decepcionar por desprezarem o que posso dar como amizade. Iniciei um relacionamento sério comigo mesma. Fui até o Facebook, mudei meu status de relacionamento. Tentei colocar “em um relacionamento sério com Adriana R.”, mas o Facebook não permitiu. Apareceu uma mensagem de erro dizendo: “você não pode ter um relacionamento sério com você mesmo”. Acho que deve ser assim mesmo, né? Em um universo em que eu tenho 824 amigos, não se pode mesmo amar a única pessoa que eu deveria.
"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
EM UM RELACIONAMENTO SÉRIO
Amor é o meu tema favorito. Em todas suas formas e variantes. Falo, persigo, busco. Tanto que cruzei, literalmente, um oceano inteiro em busca dele. Houve momentos que o senti tão perto, como se roçasse meu nariz e me fizesse espirar. Mas também há os períodos negros em que tudo é árido de sentimentos. Hoje eu estava trabalhando, lendo um artigo ótimo sobre amor e me toquei que, às vezes, não é questão de encontrar o amor, mas de encontrar nós mesmos. Então eu parei por um segundo e admiti que ainda há muito em mim que não me pertence. Há muito em mim que é vício, é trauma, é medo. E é impossível cultivar amor em solo pouco fértil. Ele vai sempre roçar meu nariz se eu não permitir me desnudar verdadeiramente em vez de fingir que vivo experiências que não são reais. Os últimos meses foram talvez os meses de maior disponibilidade de autoconhecimento que já tive na vida. A dolorosa constatação da minha imperfeição. O sentimento de traição daqueles em que eu mais depositava afeto e amizade. Enfim me encontrei desarmada. Face a face a minha verdadeira realidade. Sem auto-piedade. Sem comiseração. Somente a pessoa real que eu sou, e que não é perfeita, e nunca vai alcançar meus delírios de perfeição. Eu não tenho amigos de verdade. Eu não confio mais no meu terapeuta. Eu não tenho uma família que eu possa deixar que se aproxime. Eu não tenho uma profissão. No final, essas eram as únicas certezas que me sobraram na virada do ano. Essas e a certeza de que eu estou sozinha, nasci sozinha e vou morrer sozinha. Acho inclusive que aceitar esse fato imutável pode ser bastante libertador para qualquer pessoa. Você está sozinho! Então caem todas as obrigações inconscientes de ser perfeita, de agradar quem me rodeia, de ser amada... Ser amada. Eu que busquei tanto o amor, nunca me senti amada. E me vendo sozinha, do jeito que eu tinha nascido, percebi enfim que a única pessoa que poderia me amar era eu mesma. Mas não da boca para fora. Falo de perceber de verdade. Não de discurso de auto-ajuda: “O importante é se amar!”, “ninguém vai te amar se você não se amar”. Isso é besteira. É abstrato. Eu só serei amada pela única pessoa que faz parte do meu universo, e não acho que eu seja capaz de explicar isso aqui. Então eu tomei a decisão mais séria da minha vida. Resolvi virar a namorada de mim mesma. Pular de cabeça, como eu fiz com todas as outras pessoas que passaram na minha vida, no único relacionamento que eu deveria ter me dedicado desde o princípio. Antes de pensar em ter qualquer outro relacionamento. Antes de me decepcionar por desprezarem o que posso dar como amizade. Iniciei um relacionamento sério comigo mesma. Fui até o Facebook, mudei meu status de relacionamento. Tentei colocar “em um relacionamento sério com Adriana R.”, mas o Facebook não permitiu. Apareceu uma mensagem de erro dizendo: “você não pode ter um relacionamento sério com você mesmo”. Acho que deve ser assim mesmo, né? Em um universo em que eu tenho 824 amigos, não se pode mesmo amar a única pessoa que eu deveria.
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