terça-feira, 27 de julho de 2010

DEDO PODRE

Eu sempre disse que eu tenho um “dedo podre” para coisas caras. Quando eu estou passeando em um shopping, em frente a uma vitrine, pode ter certeza de que eu vou gostar do item mais caro que estiver exposto. Sem ver o preço antes. Funciona assim, eu aponto o dedão e falo “Ah, gostei dess... NOSSA!”. Em joalheria é pior. Pode ter certeza que eu vou apontar algo que custe um belo de um carro zero (às vezes alguns carros zeros...). Mas agora eu estou explorando a “Simple Life”. Vida na roça. A gente colhe os legumes do almoço na horta, acorda cedo. Algumas caminhadas pelo campo. Depois do jantar fica em silêncio na sala lendo. Ouvindo os grilos e cigarras do lado de fora da janela. A vida aqui é muito simples mesmo. Nem tenho usado meu kit para o rosto da Shiseido. Não combina, entende? De certa forma eu acabei resgatando uma sensação que tive no deserto no Marrocos. Uma consciência da nossa pequinez na imensidão do universo. E quando a gente alcança esse lugar, é muito claro que o preço astronômico de algumas coisas embute também um pagamento por status, vaidade, insegurança. Coisas que precisam mesmo de bastante dinheiro para serem alcançadas. Nesse final de semana não tive folga. Penny pediu para eu acompanhá-la em uma feira que ela ia participar em Whitstable. Uma cidade aqui do lado, também litorânea. E lá fui eu na Farmer´s Market de Whitstable. A gente tinha uma barraquinha no Centro Comunitário da cidade, onde todos os finais de semana fazendeiros e pequenos produtores da região levam seus produtos para levantar uns trocadinhos. Muita coisa orgânica, pão, linguiça caseira. E a gente com os vinhos. Oferecendo degustação e tentando vender. O povo inglês tem um orgulho muito grande da produção nacional. Vamos combinar que a Inglaterra não é famosa pelos seus vinhos, né!? Então cada vez que alguém parava na barraca, ficava todo surpreso e contente de descobrir que existia vinho inglês. Outra coisa de consumidor de primeiro mundo, eles sempre perguntavam se era produzido na região de Kent. Não por um protecionismo de mercado, não senhores. Existe uma cultura que está ficando muito forte no UK de controlar a emissão de carbono das refeições. Consumindo produtos da sua região, você poupa o meio ambiente da emissão de carbono de navios, aviões e caminhões usados no transporte de alimentos . Fala? Dá até uma vergonhinha, não é? Eu, em São Paulo, não controlava minha emissão de carbono nem para tomar café no Suplicy! É legal pensar que existe um mundo em que as pessoas estão tentando, pelo menos em parte, dar uma força. Contribuir para a coisa ser melhor. Penny então me disse para dar uma volta na cidade, que era uma cidade muito bonita, cheia de lojas, que tinha uma doca, e era muito charmosa. Hummmm! Saí do Centro Comunitário e desci pela rua principal. Neste final de semana estava acontecendo o Festival da Ostra de Whitstable. Cheio de gente pelas ruas, as lojas todas fervilhando. Uma vida! O Sol gelado do verão daqui. Crianças lindas fantasiadas, desfilando na Parada que atravessou a cidade no final da tarde. Assim que pisei na cidade tive a sensação de estar naquele filme Pleasantville. Só que depois que todo mundo começa a ficar colorido. As casas são lindas. A atmosfera despretenciosa, mas cool. Em cinco minutos eu comecei a fazer “filminho” (eu preciso um dia colocar um post só com a definição de “filminho” aqui!). Eu saltitando por aquela calçada. Rabo de cavalo na cabeça (no meu filminho eu tenho cabelo comprido). Então eu cumprimento os velhinhos sentados na pracinha em frente à Igreja Anglicana e atravesso a rua para dar bom dia para o dono da loja de vinhos que é vizinha ao meu café. “Good Morning, George. Lovely weather today!”. Então eu abro a porta do meu café, que tem esquadrias brancas hexagonais e cortininha fofa na janela, e começo a arrumar as coisas para os primeiros cliente. Meus clientes são pessoas tranquilas, que lêem o jornal, antes de voltar para seus trabalhos. E não tem nada da frescura de cidade grande não. No meu café sou eu quem faz tudo. Nada dessa coisa de franquia, gerente. Tudo muito caseiro mesmo. À tarde me ajuda uma estudante part-time. E meu marido lindo (no meu filminho eu tenho um marido lindo) passa na hora do almoço para me dar um beijo e deixar a minha Cavalier marrom que eu vou levar no veterinário à tarde. Cinco minutos andando pela avenida principal e eu decidi que queria morar em Whitstable. Abrir um café e escrever livros olhando as pessoas e o mar. Cidade pequena, mas como toda estrutura de comércio. Restaurantes legais. Bares. Spas. Segurança. Uma mísera hora de distância de London. Dá para assistir um show e sair para dançar na “capitar” se der vontade. Eu quero morar em Whitstable!!! YEAHHHH! Achei o lugar em que eu quero morar, e eu quero morar em Whitstable!!! UHUUU! Voltei para casa e dei um google. Porque a primeira coisa que a gente deve fazer quando resolve morar em uma cidade fofa onde já fez até filminho, é dar um google! Dei um google e... descobri que Whitstable é um dos lugares mais “posh” da Inglaterra. Lugar de veraneio de todos os endinheirados de Londres. Uma fortuna para morar. Tipo: Emma Thompson tem um “studio” de frente para o mar. Ok! Entendeu o que eu disse sobre dedo podre? Eu me matando aqui para me elevar, parar de surtar, de fazer besteira. Para ser uma pessoa melhor, mais tranquila. Eu toda crente que estava conectada com as coisas básicas da vida. Despegada no último. Acontece que nessa “Simple Life”, eu estou a própria Paris Hilton!

2 comentários:

Ana Carolina Avilez disse...

E porque não juntar o útil ao agradável!! Tudo o que descreveste sobre Whitstable antes de descobrires que é uma área posh encaixa-se com aquilo que queres certo? Agora a pergunta, não é a tua cara uma "Simple Life" numa das áreas "posh" de Inglaterra? ;)
As vezes o universo conspira :)

MH disse...

hahaha
Não aguento dedo podre. O meu me enlouquece. Mas o seu é profissional, hein? rs
beijo