sábado, 24 de julho de 2010

ELEFANTE


Acho que a coisa mais difícil, e a mais fácil, que aprendi nessa jornada de auto-conhecimento é que estar bem não quer dizer estar feliz o tempo todo. Explico. Existem épocas que estou feliz o tempo todo. Exercito amor. Exercito a capacidade de olhar com compaixão para as pessoas. (Acho inclusive que compaixão é uma das maiores conquistas que se pode alcançar). Nessas épocas o mundo se abre. As cores são mais saturadas, os dias possuem um cheiro diferente. Minha capacidade de aceitação fica enorme. E quando eu digo aceitação, digo não apenas de tudo o que a vida oferece, sinto, cheiro, tato. Mas principalmente aceitação de mim mesma. Porque o mais difícil é a gente se aceitar. Sempre gostaríamos de ser mais magras, ou mais altas, mais calmas, mais lindas, mais espertas, mais tranquilas, ou menos falantes, menos ansiosas, menos medrosas, menos atrapalhadas, menos bobas... e por aí vai. E quando estamos nesse estado de felicidade todas essas coisas são aceitas e amadas como características preciosas de nós mesmas. Mas não existe felicidade o tempo todo. Bom, até existe, mas ainda não cheguei lá. Então existe também a época em que todas essas características se tornam pedras de vidro. Perdem a preciosidade. Eu me sinto enfadada com a as pessoas. Marco consulta com o cirurgião plástico. Estouro meu cartão de crédito. Porque nessas épocas a gente também acredita que uma roupa, um sapato, uma maquiagem, vai nos tornar uma pessoa melhor. (Concordo que apenas UMA não, mas quem sabe juntando tudo não dá um upgrade...). É tudo uma questão de auto-estima, insegurança e medo. O que acontece na verdade é que nada muda. Apenas a maneira de nos aceitar. E se eu sou a mesma pessoa que eu era ontem, porque hoje está sendo tão difícil de me amar? Ontem eu estava tão pequenininha que cabia no bolso. Parecia um chaveirinho. Eu peguei meu diário, fui virando as páginas. Lá estavam os dias em que meu coração explodia, parecia um arco-íris. Agora eu era a mesma pessoa. Com alguns dias de diferença. Porque não tinha arco-íris? Eu descobri que o segredo é dar um passo para trás. Conhecem aquela parábola dos Cegos e do Elefante? (Seis cegos são colocados em frente a um elefante. Cada um deles toca uma parte diferente do elefante, e a partir dessa experiência concluem estarem tocando coisas diferentes.) Eu só vou ser um elefante dando um passo atrás e enxergando o todo. Não posso me julgar por uma pata, uma tromba ou uma orelha. Essas são só as partes de quem eu sou, não o todo. Existe uma parte de mim que é feliz, solidária. Uma parte em que o coração explode em um arco-íris. Se eu estou em um ângulo em que eu perdi a visão disso, então eu vou dar um passinho para trás e voltar a enxergar. Porque mesmo que eu não esteja feliz, exultante, eu consigo me enxergar. Ver os fogos de artifício explodindo do outro lado. E eu sou complexa demais para ser uma coisa só o tempo todo. Complexa demais para me aceitar bidimensional. Hoje eu dei um passo para trás e meu coração sossegou. O que eu vi é que eu sou só uma garota assustada, que está completamente apaixonada por um cara. Ele está longe de mim agora, e não saber quando eu vou vê-lo novamente me deixa triste. Eu também não sei se ele está apaixonado por mim (provavelmente não ainda). E isso tudo me deixa triste. Então eu não estou em uma fase feliz o tempo todo, pelo contrário. Estou triste. Muito triste. Eu acordo triste, e passo os dias triste. Eu trabalho triste, e almoço triste. E fico em silêncio no meio da tarde porque por dentro eu estou muito triste. De vez em quando eu choro escondida no cantinho. Porque tristeza a gente não segura. Eu vim procurar um monte de coisas nessa jornada, e parece que elas estão todas aqui na minha frente. Mas eu não posso tocar. Ou talvez essas não sejam as coisas que eu procurava... Ou talvez esse tipo de coisa não seja para tocar mesmo. Ainda assim, é só um elefante. Olhando de longe é isso. Olhando de longe eu tenho milhões de coisas boas. Mesmo triste. Eu tenho uma fonte inesgotável de amor. Então eu aceito tudo isso. Eu aceito a dor, a incerteza, as lágrimas escondidas no cantinho. E descubro que no fundo eu estou bem. Só triste. Muito, muito triste.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dri:
Nao consigo ler com frequencia e leio seus posts meio fora de ordem... Cai neste aqui, hj bem cedinho antes do trabalho. O texto é lindo e só nao fui eu quem escrevi, pq tenho zero esta capacidade! Como é dificil dar este passinho pra tras as vezes!! E é só um passinho... !!!!!!!!
Mando daqui um abração e desejos de um sorriso ai no meio dos dias tristes!
Ana Rita