quinta-feira, 15 de julho de 2010

RUN LOLA RUN

*aquele pontinho no fundo sou eu correndo da tempestade de raios em Gorges du Verdon.

Eu comecei a correr com 28 anos. Quase seis anos atrás já. Um dia acordei, olhei no espelho e tinha uma boêmia lá. Olheiras profundas reforçadas pelo rímel da noite em claro. Inchada de cerveja. Uma ressaca moral de virar o quarteirão. Daí tocou uma sirene na minha cabeça. “Atenção Senhores Passageiros: Última chamada para quem quer chegar aos 40 inteirona. Embarque imediato.” E foi ali que eu decidi que ia embarcar e mudar todo meu estilo de vida. No começo foi bem radical. Sumi da noite, entrei em uma dieta espartana. Desinchei 7Kg, e em poucos meses já estava correndo 4Km todos os dias. Nunca tive a intenção de correr exatamente. Comecei caminhando. Eu grunhia, de tanto mal humor. Pensava em desistir todos os dias quando o relógio despertava. Mas como a gente sabe que perspectiva é tudo (e MH sabe das coisas!), falava para mim mesmo que eu só precisava fazer aquele dia. Um dia de cada vez. (AH! A gente precisa se tratar como uma dependente química de vez em quando.) E fui andando, andando. Bufando e andando. Até que andar ficou fácil. Então eu comecei a correr e andar. Correr e andar. Até que um dia eu só estava correndo. Acordava, caía na pista e corria. Meus dias começaram a mudar completamente. Era nítido. Eu tinha os melhores dias quando acordava cedo e corria. Como a motivação estava em alta, me matriculei e frenquentei direitinho uma academia pela primeira vez. (Até então eu era a tradicional turista. Sempre me matriculava, ia duas semanas e sumia, perdendo cheques que eram depositados todos os meses por donos de academias felizes!) Nessa época também resolvi participar da minha primeira corrida de rua. A Nike 10K. Essa é uma corrida bem legal. Rola no mesmo dia, em várias cidades do mundo. Tem um clima bem festivo, muita gente bonita e animada. Mas até aí, eu nunca tinha corrido 10K na minha vida e estava com medo. Comecei a treinar, conversava com o professor da academia. Na véspera bateu um medinho. Quase desisti. Meu professor me ligou no celular e me deu um dos maiores sermões que eu já ouvi. “Tá louca? Você está treinando há tanto tempo. Se esforçou tanto, tá preparada. Vai desistir porquê? Por que é boba?” Então eu fiquei com vergonha, acordei no domingo cedo, amarrei bem forte os cadarços dos tênis e corri 10K. O mais incrível? Foi fácil! Conforme eu cruzei a linha de chegada, mesmo cruzando depois de milhares de outros corredores, não importa. Quando eu cruzei a linha de chegada, eu tinha conseguido aquilo sozinha. Eu tinha me proposto a fazer uma coisa e conseguido. Daí para virar rata de academia foi um pulinho. Durante um bom tempo eu acordava 5h30 todos os dias. Corria 8K, fazia musculação, aula de jump, step, GAP, abdominal, alongamento. Ficava pelo menos 3 horas na academia todos os dias. Tive o melhor corpo da minha vida. Sério! Dá vontade de chorar só de lembrar. Sabe aquelas barrigas tanquinho? Eu tinha! Comprei até um biquini de lacinho branco. Tamanho P. Mas acho que o segredo é encontrar a medida das coisas. Encontrar o equilíbrio. E eu não queria ser boêmia barriguda, mas também não queria ser rata de academia. Então fui fazendo adaptações. Liberando a dieta, cancelando academia. Voltando a sair mais vezes. E o que sobrou foi onde eu comecei. A corrida. Verdade que eu não tenho sido das mais disciplinadas. Não tenho corrido nada durante a viagem. Mas correr faz parte da minha vida, mesmo quando eu não tiro os tênis da mochila. Como agora estou querendo dar uma pausa e resgatar o que é importante para mim (para ver se eu me acho no meio de tudo), a primeira coisa que eu fiz chegando em Londres foi retomar a corrida todos os dias. Estava em um hostel em frente ao Hyde Park. Era só atravessar a rua. Então eu acordei e fui correr. Dava a volta na Serpentine olhando os cisnes descansando nas margens. Eu e todos os londrinos saudáveis, com seus Ipods e cachorros a tira colo. E o resultado é que esses dias têm sido muito mais produtivos do que todos os outros até agora. A corrida é um elemento essencial de saúde para mim. Me aterra, me deixa mais calma. Mais confiante. Relaxada. Aprendi muito correndo. Aprendi a ser tartaruga. Que sempre vai dar vontade de desistir, mas daí a gente lança mão da filosofia da tartaruga e da lebre “Devagar e sempre!”, então eu vou no meu ritmo e tento me manter constante. Aprendi que eu posso sempre me superar. Que a sensação de chegar no final faz a gente se sentir capaz de qualquer coisa. Que os momentos em que eu passo com meus pensamentos, enquanto meu corpo corre, são os em que eu estou mais consciente em todo o dia. Que muitas vezes é dolorido, ou exaustivo, mas passa. Sempre passa. E a endorfina se espalhando pelos músculos quando a gente termina uma corrida é sublime. Que eu não preciso ser a melhor, ou a mais rápida, ou a mais resistente corredora do mundo. Que não adianta colocar metas absurdas (Vou correr 10K em 35´!!!), porque as conquistas são feitas aos poucos. Um pacinho de cada vez. Não estou dizendo que corrida é o melhor esporte do mundo, ou que “Só a Corrida Salva!”. Só que, correr funciona para mim. Cabe na minha mochila. Tem épocas que corro sempre, tem épocas que rola uma preguiça. Mas nos últimos seis anos, com tudo o que eu mudei, que eu fui e deixei de ser, a corrida é sempre uma constante. E cada vez que eu me entrego a ela, sinto minha vida mais inteira. Então agora que eu estou em um gap. Que eu não sei direito o que fazer ou para onde ir. E que meu coração está na Irlanda. Tem sido uma salvação encontrar a corrida novamente. Porque ela me ajuda a ter certeza de que vai passar. E depois, é nesses momentos em que a corrida fica “pesada” que a gente conquista o melhor trabalho cardio-vascular.

3 comentários:

MH disse...

Sempre quis encontrar algo que me proporcionasse isso. Mas só a leitura me domina desse jeito. Ou passeios contemplativos. Não o esporte. Tá, o pilates me fisgou por um tempo. Até ficar grávida, aí não apareci mais... a preguiça é maior que a recompensa dos músculos trabalhados e alongados. Um dia eu chego lá...

Anônimo disse...

Dri: voltei hj a academia depois de ter fugido desde janeiro. A MH sabe que sempre tive vontade de correr e fui ver os blogs da lista dela e achei o seu e achei este post! Obrigada... Vou lembrar de vcs nestes primeiros dias!! Um gd beijo e boas corridas!
Ana Rita

Carlinha disse...

Dri!!!! Amei, vc conseguiu escrever bem o que a gente, que decide começar a correr, sente.
Ontem eu corria na esteira, me olhando no espelho, pq a academia do meu prédio é minúscula e meus suor espirra no enorme espelho que fica em frente às esteiras, e pensando: "um dia depois do outro", "um km depois do outro"....
E o suor escorrendo no rosto e o prazer de ver o tempo passando e eu aguentando numa boa aos quase 34 anos, me fez correr mais um pouquinho e mais um pouquinho e eu querer voltar hoje, amanhã e depois.
Minha primeira meta é participar de uma corrida de rua de 5km ainda em 2010. E vou conseguir!
Beijo, se cuida....e tente continuar correndo!
:)