terça-feira, 20 de julho de 2010

A SIMPLE LIFE

Eram 20h ontem quando Penny levou nossos pratos para a mesa do lado de fora da casa. A cozinha tava toda perfumada com o pedaço de porco assado que ela tinha feito. Alguns legumes e batatas salteados. Sentamos Ela, Steve e eu. O clima um pouquinho pesado porque eles tinham acabado de ter uma discussão sobre o espumante rosè que tomávamos na refeição. Parece que o espumante não estava dentro dos padrões de qualidade de Steve, mas eu e Penny gostamos. E tomamos a garrafa inteira. “Isso não é comum, viu! Jantar do lado de fora, à essa hora aqui em Folkestone.” Steve disse isso porque o tempo tem estado agradável e quente até à noite. Folkestone costuma ter noites frias. Depois arrumamos a cozinha, fizemos um chá. Subi para o meu quarto e fiquei lendo um livro até 23h30, quando meus olhos já não se aguentavam sozinhos. Foi assim que terminou meu primeiro dia de Helpx na vinícula de Penny e Steve. Antes disso eu ajudei na winery durante a tarde. Lavando garrafas, selando a rolha e etiquetando. Separamos alguns pedidos que iam para restaurantes e organizamos em caixas. Ainda tive tempo de trabalhar um pouco no livro, conversar com S pelo Skype, trocar mensagenzinhas rápidas com os amigos e responder emails. A vinícula de Penny e Steve fica em Folkestone, Sul da Inglaterra. É uma propriedade pequena e nada longe da cidade. Dá para dar uma caminhada, andar de bicicleta. Bem menos meio do mato do que eu estava me preparando. A casa é grande, cheia de quartos, super confortável. Eu estou no quarto que era do filho de Penny. (Ele aparece aqui todos os dias, mas saiu de casa e foi morar sozinho). No fundo da propriedade ficam as vinhas, depois tem mais um pouquinho de terra, o mar, e a França. Juro que dá para enxergar daqui. Além dos dois, mora aqui Rose. A filha adolescente de Penny. Que é linda (mas é adolescente). Passa quase o dia todo fora de casa e quando chega, se tranca no quarto e ouve heavy metal no último volume. Tão alto que consigo ouvir daqui da cozinha. Parece que semana que vem ela vai para um acampamento de verão. Hum! E semana que vem também chega um outro Helpx que vai ficar por aqui. Um canadense, que vem todos os anos ficar com eles. Hoje o trabalho foi diferente. Depois do café da manhã fomos para as vinhas. Houve muito vento nas últimas semanas e as parreiras estão parecendo umas couve-flores. Todas abertas. A gente passou a manhã amarrando os galhinhos das parreiras, porque Steve precisava pulverizar hoje à tarde. No começo foi divertido. Eu sou meio obsessiva com padrões estéticos, então era como ligar no piloto automático e fazer um mantra. Até terapeutico. Depois de algumas horas eu já estava achando um bode. Penny dividiu as tarefas da cozinha. Cada dia eu, ela ou Steve somos responsáveis por cozinhar. Hoje é o meu dia. No almoço não rola uma culinária. Como eles voltam para o lerêlerê, preferem fazer um lanche, comer coisas leves e frias. Então eu basicamente abri um monte de potinhos com saladas, cole slaw, feijões, grãos de bico, ervilhas, salmão defumado, couscous gelado. E botei tudo em cima da mesa. Para não dizer que não cozinhei, peguei o resto da carne que Penny assou ontem para o jantar, dei uma refogada com tomate e pimentão, e tcharã! Mega sucesso da culinária brasileira! Adoraram, me elogiaram. E eu fiquei toda pimpona! Tão pimpona que liguei a Stepford Wife no 220, fui até a horta e colhi cenouras. Lavei, cozinhei com vagens. Fiz uma maionese e deixei na geladeira para o jantar. E como eu tô pimpona que nem me aguento, saí fuçando nos armários para ver o que tinha e o que não tinha e resolvi assar um bolo. Bolo de laranja. Bati a massa na mão, do jeito que minha avó me explicou. As apostas estão de 250 para 1 de que o bolo vai solar. Eu não tenho dúvidas. Vai solar! Daqui à pouco começo a cuidar do jantar. Tô me adorando toda dona de casa! Quero ver quanto tempo vai durar. Amanhã talvez eu acorde mais cedo. Dar minha corridinha matinal. Hoje eu tava de bóia-fria. Não rolou. Acho que fiz a escolha certa vindo pra cá. Ainda não senti muito como vai ser a rotina, o trabalho. Quanto vai ser produtivo para mim. Mas em 24 horas eu já me sinto outra. Estou calma, serena. Feliz, e amando denovo. É uma vida simples. Coisas simples. Não importa muito qual o trabalho que eu tenha de fazer, aqui eu sinto que eu posso simplesmente ser.

2 comentários:

MH disse...

êêêêêê! Acho melhor trabalhos que te permitam algum silêncio e contemplação, depois da metrópole, do que todo o agito das crianças... Enjoy!

Anônimo disse...

Adorei a escolha, o texto e toda esta empolgaçao! Confesso uma certa surpresa com esse lado dona de casa... mas... vai mandando umas receitas!! hehehe Aqui a coisa é feia! MH é ótima!! ;) Beijao
Ana R.