terça-feira, 16 de março de 2010

COIMBRA


Eu vou tentar ser sintética sobre Coimbra, porque para falar tudo o que eu vi lá precisaria de uns cinco posts (e eu estou bem cansada hoje e duvido que alguém tenha muito saco de ler tudo). Quando cheguei em Coimbra ontem não botei muita fé. A cidade não é muito grande. Gira em volta da universidade, que é uma coisa bem imponente mesmo. O conjunto de prédios fica na região central e mais alta da cidade, então a impressão que se tem é de que o tempo todo damos de cara com ela. Mas não é qualquer universidade. Foi a primeira universidade de Portugal e uma das primeiras da Europa. Até hoje carrega um dos mais conceituados nomes no meio acadêmico mundial. A Universidade foi na verdade fundada em Lisboa a princípio por Dom Dinis em 1290 (o mesmo que deu Óbidos para a esposa. Ele era um rei bastante empreendedor.) e só foi transferida definitivamente para Coimbra uns 250 anos depois, vivendo um período de grande efervescência durante a Renascença, com docentes que vinham de toda Europa. Histórinha geral. Coimbra foi fundada por romanos, mas cresceu na época da dominação moura por ser um excelente ponto estratégico. Nessa época também os mouros muraram toda a cidade (como gostavam de um muro esses mouros…) e construíram torres de vigilância que ainda podem ser encontradas misturadas à arquitetura atual da cidade. Coimbra foi também capital de Portugal por mais de um século. E tudo isso para entender que a história da cidade se funde e confunde com a história da universidade. Assim como os resquícios da muralha estão perdidos entre prédios renascentistas por todos os lados. Coimbra é uma cidade que se reciclou, mas mantém viva e palpitante uma série sem fim de rituais académicos que fazem qualquer visitante querer defender tese de doutorado. Apaixonante mesmo são os uniformes dos universitários. Não é obrigatório, mas é um desbunde por si. Trata-se de um terno (calça para os homens, saia para as mulheres), camisa branca, gravata, paletó e uma capa incrível por cima que faz parecer que todos eles estão no horário do recreio de Hogwarts. Dentro das capas os estudantes costuram insígnias dos cursos que frequentam, fraternidades, cidades de origem, países, etc. Quanto mais insígnias, maior é a vida académica do estudante. Eles também possuem fitas coloridas que representam o curso que estudam. Vermelha é Direito. Amarela, Medicina; e assim por diante. Em Maio acontece um ritual centenário em que os alunos formandos queimam as fitas em uma grande pira, e há festa por 10 dias, com música ao vivo e cerveja mais barata para todo mundo. Existem documentações fotográficas do ritual da Queima das Fitas, algumas impressionantes feitas um dia antes da tomada do poder da ditadura de Salazar. O prédio central da universidade, onde fica o curso de Direito, já foi o palácio real e sede do governo. As cerimônias anuais de abertura do ano letivo acontecem na Sala do Exame Privado, que já foi a câmara real, o local onde o rei dormia. Imagina então defender tese de doutorado na Sala dos Capelos, o local que foi a Sala do Trono de todos os reis da primeira dinastia portuguesa. São milhões de detalhes assim que fazem da visita a Coimbra uma jornada repleta de simbolismo, rituais, e um olhar completamente a educação e a vida acadêmica. Há ainda a impressionante Biblioteca Joanina. Uma pena não poder fotografar lá dentro, proibido para preservar os livros antiquíssimos da luz. A primeira sensação que se tem ao entra na biblioteca é algo indescritível. Tive a sensação de entrar em uma pintua. Juro! Descobri também que dentro da biblioteca mora uma colônia de morcegos. Sério. Os bichinhos. De verdade. A administração mantém a colônia na biblioteca porque os animais ajudam a comer os insetos e preservar os livros. Bem bizarro. Andar pelas ruelinhas medievais que parecem um labirinto ao redor da universidade também é uma delícia. Descobre-se lojinhas, casas fofas e algumas repúblicas estudantis que são identificadas com bandeiras ou grafittis nas paredes. Parece uma salada muito grande, mas te garanto que tudo é harmônico e faz muito sentido. Gostoso também é descobrir um dos cafés e pastelarias na Rua Quebra-Costas (a rua na verdade é uma grande escadaria que deslancha até a Torre Almedina e é o lugar mais charmoso de Coimbra), sentar em uma mesinha, pedir um café e uma nata (nata é um doce típico feito de massa folhada e creme de ovos. Muito parecido com o Pastel de Belém), e ficar apreciando as pessoas passando, os estudantes conversando, indo e vindo. Uma vida que palpita, revigora, faz muito bem.

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