Um dos milhões de motivos que me fizeram começar essa viagem foi que eu queria me apaixonar. Acho que amor é uma coisa contagiosa. Quanto mais se sente, mais se atrai. E eu quero uma vida cheia de amor. Só não sabia que eu podia me apaixonar tão rápido. Sem nenhum propósito. Posso dizer com completa convicção que estou completamente apaixonada por Londres. Cada esquina, o cheiro, as cores. As pessoas! As pessoas são o que mais me comove. Existe um misto de individualismo e gentileza que me faz sentir mais humana do que em qualquer outro lugar que estive. Ontem eu tive uma noite muito triste. Chorei. Gritei pelo Kallel no MSN só porque eu precisava ouvir que alguém me amava. As vezes a gente não se sente digna de amor. (eu sei, eu sei, essa história denovo. Mas é assim. Dói. E quando dói eu choro.) Mas assim que pisei na rua, que comecei a fazer parte do cotidiano de todas as pessoas apetando o passo na calçada, abrindo guarda-chuvas, paradas na estação lotada da Bank. Assim que me senti parte de algo muito maior e coletivo, me veio a razão e a certeza de que não existe a menor possibilidade de eu não ser digna de amor, sem que todas as pessoas no mundo também não fossem dignas. Nesse quesito, eu prefiro votar no copo meio cheio. Prefiro olhar o belo. Eu gosto de acreditar no bem, e estou fazendo um esforço sobre-humano para não deixar o cinismo me corroer a alma. Eu escolho sorrir. Eu escolho o benefício da dúvida ao julgamento. Eu escolho a verdade, a entrega, o genuíno. Eu sei que às vezes vai doer, mas eu escolho saber que sempre haverá quem me lamba as feridas.
Hoje pela manhã fui na National Gallery. Bem em frente a maior concentração de gafanhotos do universo. Eles chegam aos bandos, embaixo de chuva mesmo, descem de ônibus, surgem dos bueiros. E tiram fotos. Tiram fotos de tudo o tempo todo. Falam alto. Francês, espanhol, alemão, italiano, chinês, coreano, japonês e algumas línguas nórdicas de que não sou capaz de identificar. Apesar da abundância de turistas, a National Gallery é certamente um lugar que eu vou precisar voltar mais um milhão de vezes. Me deparar com "Os Girassóis" de Van Gogh a um palmo de distância foi uma das emoções masi fortes que senti nessa viagem. Vieram-me lágrimas sem que eu pudesse me esconder. Klimt, Pissarro, Monet. As bailarinas de Degas. Todo mundo lá. E eu não consegui ver um terço. Sou mesmo uma pessoa de museus. As coisas me fazem sentido com uma curadoria pro trás. Depois encontrei Florence, e andamos por todo o centro, Covent Garden, Westminster, Soho. Parávamos nos mercados para tomar chai e comer pudim de pão com passas, ou para ouvir uma espanhola cantando no salão do National Theater. Vimos o início de uma cerimônia em St.Pauls, o Globe, o Tate. Corremos da chuva na beira do Thames e em Trafalgar Square (à noite, quando as centenas de milhares de gafanhotos já foram para outro lugar). Então jantamos em Chinatown e comemos um bolinho engraçado em uma barraquinha de rua. Saímos pelos bares e pubs, entrando em alguns só para sentir a atmosfera. A maravilha é que tudo acontece em tempo de se pegar o Tube e chegar em casa ainda no mesmo dia. Uma cidade diurna, para mim que peguei um bode imenso de ouvir os passarinhos cantarem pela manhã. Florence foi um anjo, fazia questão de me contar tudo, me mostrar tudo. E pensar que somos praticamente estranhas. Conheci Florence por acaso no Carnaval na Ilha do Cardoso. Ela estava perdida e mais ninguém dominava o inglês na vila de pescadores. (tanto que a primeira coisa que dissemos uma para a outra hoje foi "Ei, First time we see each other without bikinis!!!") Tentei ser o mais gentil que pude, e ganhei uma amiga e uma anfitriã maravilhosa nessa cidade. Acho mesmo que o amor, a gentileza, sejam contagiantes. Estou apaixonada. Estar apaixonada é algo muito revigorante. Ainda quero mais. Quero todas as paixões a que eu for capaz.
2 comentários:
Aproveita, cherie!
saudades... mas tudo bem, estarei aqui quando você voltar!
beijo
Menina, nao te conheco, mas me reconheci no seu post. Invejei post e palavras q eu gostaria de escrever para descrever como me sinto aqui. Eu amo demais essa cidade e as vezes nao sei explicar. Moro pior do q morava em sp, trabalho em algo pior, ganho pior, mas mesmo assim, amo atravessar a rua, andar de metro, mesmo que lotado. Amo!
Minha mae veio me visitar e eu contei que ia estender o visto e queria mostrar a cidade a ela e dizer, endente agora, pq quero ficar. Ela nao entendeu. Ela nao amou como eu amo. Ela gostou e eu nao consigo entender como pode nao amar. E senti o mesmo q vc disse num post acima, uma sensacao de casa, mesmo chegando no pior inverno da historia, mesmo sozinha da silva. Paixao, paixao e pronto.
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