"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
terça-feira, 30 de março de 2010
DUBLIN
Zero graus agora em Dublin. A sensação térmica é de menos 6. Eu que nasci para ser nordestina me escondo embaixo do edredon e tento imaginar uma boa razão para sair lá fora. Cheguei ontem no final da tarde. Visibilidade quase zero. Vim de Londres com uma companhia aérea irlandesa chamada Aer Lingus. O logotipo deles, um óbvio trevo de três folhas e verde para todo lado. O avião ficou 40 minutos sobrevoando o aeroporto, quase arremeteu. Acabou pousando por instrumentos. Um pouco de tensão nas poltronas. Eu só dormia. (A hora que for a hora, foi. O que se pode fazer?) Na alfândega o oficial me pergunta: "What brings you to Ireland?" Sem pestanejar, abri um sorrrisão (também porque sorrisos são as coisas mais poderosas quando estamos viajando), olhei bem nos olhos dele e respondi apenas: "Beer!!!" E o oficial soltou uma bela gargalhada "That´s a really good answer!" Então conversamos sobre Joyce, sobre Oscar Wilde, ele carimbou meu passaporte e disse "Please, be very wellcome to Ireland!" E eu entrei em Dublin com as portas escancaradas. Os irlandeses são como aquele tio bonachão que enche a cara no almoço de domingo. Só que aqui, todo dia é domingo. Ontem conheci duas garotas e um garoto brasileiros. Estudam hotelaria na Suiça e estão viajando no Mid-Break. Fomos jantar na região de Temple Bar e depois tomar pints de Guinness. Para sorte nossa o barman era brasileiro também (e a coisinha mais fofa do mundo...) e cobrava metado do valor da gente. O bar cheio de gente, com música irlandesa. As pessoas cantando, batendo palmas e sapateando. Nós éramos as únicas três almas ali ainda sóbrias. Então aparece Fred, um verdadeiro Leprechaun Irlandês tamanho família, enorme, ruivo, com uma barba que ia até o meio do peito; e que arranha meia dúzia de palavras em português, é corintiano e começou a se contorcer (no que ele chamou de Samba) como um louco quando soube que a gente era brasileiro. Ele sapateava, tocava um tambor maluco e ainda me agarrou pelas pernas, me jogou em cima dos ombros e rodou comigo no meio do bar. Eu só fiquei esperando aquele irlandês louco (eu ia dizer irlandês bêbado, mas é pleonasmo.) me derrubar no chão e eu precisar usar meu seguro saúde. Mas o cara era enorme, e me botou de volta ao chão como se eu fosse uma folhinha de uva. Andamos de volta para o hostel no meio da garôa. Totalmente surpeendida pela cidade. Zero graus agora em Dublin. E caem alguns floquinhos de neve lá fora, que derretem antes de chegar no chão. Eu que nasci para ser nordestina, sempre fugi do frio e nunca vi neve na vida, consigo pensar em um único motivo para levantar da cama agora. Eu estou viva.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Nossa, aproveita muito a Irlanda por mim? Tá uma volta pelo interior? Tira um milhão de fotos? Eu acho que fui irlandesa em alguma outra encarnação, tamanho o meu fascínio por esse país!
♥ U!
beijos saudosos (e com um tiquinho de inveja! rs)
Postar um comentário