"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
STRIKE A POSE!
Minha primeira câmera fotográfica eu comprei com 18 anos. Uma Pentax K1000. Acho que esse era o modelo “minha primeira reflex” de todo mundo na época. Fui lá na Sete de Abril. Dinheirinho juntado e mais ajuda da mamis. Comprei a Pentax, um filtro skylight, dois rolos de filme P&B da Fuji ISSO 400 e um envelope de papel fotográfico. Me inscrevi em um curso do Senac. Sonhava em juntar mais dinheirinho e comprar uma tele. Uma Nikon automática. Sempre gostei muito de tirar foto de gente. Na mesma época eu faculdade também tive aulas de fotografia. Mas era mais genérica. O legal era que o laboratório era liberado. Eu podia brincar de revelar filmes e ampliar. Experimentar técnicas de máscara, ficar na sala escura por horas. Tudo saía meio tosco, porque eu ainda estava aprendendo. Mas eu amava. Quando saí da casa dos meus pais, com 21 anos, fui dividir com uma amiga fotógrafa. Procuramos um apartamento planejando transformar o quarto da empregada em uma sala escura. Não preciso dizer que o quarto da empregada nunca mudou de status. A gente ficou tão ocupada com os 20 e poucos anos que tudo foi ficando procrastinado. Fiquei tão ocupada me tornando a “dancing queen”, descobrindo a música eletrônica (pois é! Eu já gostei disso...), fazendo um milhão de amigos... Até que eu fui ficando cansada da noite. Então a gente envelhece, entra na corrida das carreiras. Começamos a priorizar a conta bancária (que nunca ficava positiva), o corpo em forma, o sapato de marca. Os relacionamentos se complicam. Será que eu caso? Será que eu compro uma bicicleta? Será que eu vou na liquidação do QBazar no Jockey? No Ano Novo eu sempre fazia minha listinha de objetivos. Imprimia em uma cartolina, plastificava e colocava na agenda do ano. Nela tinhas as coisas que eu queria conquistar. Academia 3 vezes por semana. Trocar de carro. Emagrecer 6 Kilos. Viajar para NY. Comprar um laptop. E uma mega câmera fotográfica. E assim iam se passando os anos. Eu nunca comprava a câmera. Durante esse ano, durante toda a jornada que passei, eu fui revendo tudo o que eu gostava, o que eu queria, o que eu era. Então eu achei aquela garota descabelada, que queria ter uma sala escura no quarto da empregada. Achei ela perdida dentro de mim e me perguntei “Porque mesmo que eu a abandonei?”. Então quando eu estava fazendo minha lista de “Coisas que eu gosto”, meu passaporte emocional de volta para casa, eu coloquei lá. “Comprar uma mega câmera fotográfica (e fazer um curso de foto)”. Dessa vez eu fiz. Porque agora o foco é não me perder mais de mim. Troquei idéia com amigos que fotografam sobre equipamentos, aceitei dicas e, antes de embarcar de volta, comprei minha primeira câmera reflex digital. Uma Canon EOS 500D e mais três jogos de objetivas. Uma mochila linda para carregar todo o equipamento. Me inscrevi em um curso de foto que começava logo no dia que eu cheguei. Não quero nunca mais procrastinar. A gente vai deixando para depois até um dia que não nos lembramos mais porque estamos fazendo as coisas que fazemos. Com toda a bagunça que ainda eu preciso organizar nessa minha vida de volta, eu tenho ido no curso de foto direitinho. Fazendo dois módulos logo de cara. Os módulos mais básicos. Relembrando tudo aquilo que aprendi quando todas as câmeras eram analógicas e a gente nem sonhava com todos esses recursos digitais. Logo de cara tava sendo 10x0 para a câmera. Agora já estou começando a ter um pouco mais de domínio. Deixando de ser uma apertadora de botão e pensando na foto. Hoje voltei para casa cheia de orgulho. Durante nossa saída prática no curso de hoje à noite, resolvi bater uma foto da minha cidade. Apoiei a câmera em cima do Viaduto do Chá e fui exercitar foto de movimento. O resultado é esse aí. Não está perfeito, mas me deixou feliz pra burro. Tirei umas 5 fotos antes dessa até acertar o tempo de exposição para conseguir os risquinhos. São esses os tipos de detalhes que a gente esquece e a prática vai deixando cada vez mais automáticos. Cada dia eu vou desperdiçar menos cliques. Estou apaixonada de voltar a fotografar. E ainda tenho São Paulo posando para mim.
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3 comentários:
Pois é, e quando eu falei pra vc fazer o curso de foto em londres, vc LEMBRA O QUE VC DISSE? ã ã ã. Arram, nao lembra. ok. Lê os posts antigos. Tá tudo lá!
bjooo
Amei tudo!
Eram sonhos em nossas mãos. As Yashicas, as Nikons, o filtro polarizado, a tele, a macro. Cada clique era a construção da realidade, e a espera da revelação. Era um projeto presente, a ser realizado no futuro. Éramos nós.
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