Depois de Skye nós pegamos o dia mais azul nas Highlands em seis anos. Passamos pelo Eilean Donan Castle. O mais incrível de todos. Fica em uma pequena ilhota no meio do lago com uma pontezinha de arcos ligando até ele. Como o dia estava azul, lindo e incrível, as águas do lago funcionavam como um espelho gigante duplicando a imagem do castelo, da ponte e das montanhas. Era como andar no meio de um cartão postal. A gente tirou milhões de fotos pulando em frente ao castelo. Fazendo uma sessão “Maxwell Jump”. De lá passamos pelo lendário Loch Ness. Pausa aqui. Eu não entendia direito a história do tal do monstro. Loch Ness é o maior lago da Escócia. Tem mais de 23Km de comprimento. É tão profundo que os pesquisadores não conseguiram até hoje medir com precisão. Existem alguns satélites tentando definir essas medidas. Há 500 anos alguns moradores da região reportaram terem visto um monstro, parecido com um dinossauro, nadando pelo lago. Desde então mais de 100 pessoas juraram que viram o bichão pelas águas. Até hoje parece que ele faz aparições esporádicas. Fazendo a média, uma aparição a cada cinco anos. Nenhuma quando eu estive lá. Eu coloquei a mão na água, chamei o bichinho. Até joguei pedrinhas para ver se ele acordava, mas nada. A água aliás é bem gelada, não muda de temperatura durante o ano inteiro. O volume é tão grande que ela permanece a mesma no verão e no inverno. Conheci alguns malucos que deram um mergulho. Águas escuras e sinistras. Dizem que é algo obrigatório, dar um mergulho com o monstro de Loch Ness. Isso é o que dizem, eu mesma nem tentei. De lá fomos para Inverness, a única cidade das Highlands (para ser considerada “city” é preciso ter uma catedral. Todo o resto é considerado “town”.) e a menor cidade da Escócia. Bem simpática Inverness, uma pena termos ficado só por essa noite. Parece que tem bastante coisas para se fazer nas redondezas e está cheio de gente que se perdeu e acabou ficando por ali. Uma boa estrutura de comércio, restaurantes. Todavia não tirei nem uma foto. Sei lá. Não deu vontade. Depois do almoço fomos até Fort George. Estava terminando algum festival ou comemoração. Um monte de barraquinhas montadas no gramado reproduzindo campanhas de guerra. Gente fantasiada para todos os lados e crianças fantasiadas de soldados e guerreiros. O Forte é grande, bonito. Com uma vista linda para outra parte de Loch Ness, mas a gente esquece que é um lago e parece mais um mar. Gaivotas voando e descansando nas muralhas. Fizemos mais uma sessão de “Maxwell Jump”, com um céu tão azul que era uma ignorância. Dia lindo. Quente. E eu sentei em cima da muralha, em uma parte gramada, e fiquei um tempo contemplando o horizonte que dava a volta em mim e me abraçava. À noite, depois de voltarmos de um “nutritivo” jantar no MacDonalds (apesar do nome, não era culinária típica escocesa) Y e o irmão dela foram para o B&B e eu fui para o meu hostel. Um hostel bem legal. Cheio de gente louca, mas tranquilo. Com uma atmosfera de casa e conforto. Eu fiquei até tarde conversando com as pessoas no lounge. Gente bêbada passava na porta o tempo todo. Ficavam batendo na janela. O recepcionista do hostel, um australiano de 27 anos que tinha cara de 17, me disse que todos os dias era assim. Que toda as Highlands eram assim. A noite dos mortos-vivos. As pessoas saem para os pubs, enchem a cara e se jogam nas ruas pelas madrugadas procurando desesperadamente alguma interação humana. A grande maioria é inofensiva. Zumbis bonzinhos. Parecem cachorrinhos arranhando a porta e querendo entrar. Querem conversar, falar. Querem companhia. Em um dos lugares mais lindos do mundo as pessoas estão anestesiadas pelo alcóol, carentes de amor. Chocante? Não. Nem um pouco. Chocante mesmo é o quanto as pessoas se assustam e saem correndo quando ouvem “Eu te amo”. Pensando assim deve mesmo ser uma maldição ser um “Highlander”. Quem quer viver para sempre? Para que viver para sempre se for assim?
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