"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
MANTENHAM SEUS PASSAPOTS EM MÃOS!
Saímos de Dubrovnik com o coração na mão. Acho que a Kika nem tanto, mas eu 100%. Foram 8 horas de ônibus até chegar em Zadar. Cruzando um trecho de Bósnia no caminho. A gente parava na fronteira, um policial entrava no ônibus e checava o passaporte de todo mundo. Até que muito tranquilo. Uma senhora no banco ao lado tentava me explicar o que estava acontecendo em croata e dizia “Iuguslávia. Iuguslávia.”. Na cabeça dela o país é o mesmo. Deve ser difícil aceitar tantas mudanças. Um pouco depois da fronteira o ônibus parou em uma vilazinha. Eu entedi “5 minutos”. Tempo de ir ao toilette. Descemos as duas rapidinho, para descobri quando saímos do banheiro que o ônibus já tinha ido. Primeira sensação, frio na barriga de pânico. Perdida em um vilarejo perto da fronteira da Bósnia, sem falar uma palavra (útil) de croata. Depois lembrei que meu passaporte e minha carteira estavam comigo na mochila e relaxei. Na pior das hipóteses ia ficar caro, mas eu ia dar um jeito. Kika já beirava as lágrimas. Eu corri até o bar da estação e fiquei fazendo mímica para me fazer entender. Me levaram até o guichê da companhia de ônibus. Ninguém falando inglês naquele lugar. Foram alguns minutos de mímica para explicar “Bus. Go. Me. Stayed”. Acho que agora falo croata tarzan! Quando o rapaz entendeu, bateu com a mão na testa e saiu falando com outros homens muito rápido e com a voz enérgica. Todos aqueles homens discutindo e balançando a cabeça, e eu explicando para Kika que ia ficar tudo bem. Então apareceu um anjo. Juro que ela era um anjo. Linda como todas as croatas, não tinha mais de 21 anos. E inglês perfeito. Veio falar comigo, eu expliquei a situação. Foi nossa interprete e foi nos explicando o que estava acontecendo. Basicamente eles iam tentar telefonar para o motorista do ônibus para ele parar e alguém ia nos levar até lá. Depois de uns 15 minutos de espera, ela nos disse que já tinham resolvido e o ônibus voltaria para nos pegar. Da mesma forma que ela tinha aparecido do nada, sumiu do nada. Eu falo que viajantes possuem anjos da guarda particulares! Ainda esperamos uns bons 20 minutos sentadas na guia da calçada. Quando o ônibus chegou foi uma bela gargalhada de todo mundo assistindo a cena. Entramos com o motorista muito nervoso falando várias coisas para gente. Eu não entendo nada de croata, mas eu tenho certeza que foi algo como “Suas turistas malucas. São bobas, são? O que vocês estavam pensando? Tá achando que isso é praia? Que é excursão na Disney? Olha só o que fizeram! Agora estamos todos atrasados. Porque tivemos de voltar para pegar as bonitas que estavam se emperequitando no banheiro. Eu tenho mais o que fazer! Precisam ficar atentas, acordar. Acordar.” Acho inclusive que devo ter aprendido alguns palavrões em croata. Entrei quietinha, igual cachorro que fez arte, e sentei no meu assento segurando para não rir. Do lado de fora os homens que nos ajudaram acenavam e gargalhavam. Eles é que estão certos. A gente precisa rir de coisas assim. Pensar que por um segundo eu quase deixei a mochila no ônibus. Aí sim seria burrada animal. Ficar sem passaporte, sem dinheiro.... Tem gente que deixa tudo na bagagem. Na parte debaixo do ônibus. O meu vai comigo onde eu for. Mantenho grudado. Minha prova de quem eu sou. De onde eu vim e de que um dia eu vou. De resto, tem coisas que são engraçadas em qualquer língua...
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Um comentário:
Jamais se desgrudar de certas coisas. Um livro que estamos lendo, por exemplo. Como recuperar uma Clarice Lispector, em português ou em inglês, quando estamos na Croácia? E como matar a sede da companhia dela?
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