terça-feira, 31 de agosto de 2010

HVALA CROÁCIA!

Deixando a Croácia daqui à pouco. Pego um vôo para Zurich, com uma escala longa em algum lugar da Alemanha. Chego só no final do dia. Suíça eu vou atravessar igual o Pateta correndo em cima de brasa. Pulando e gritando “Ai, Ai, Ai”. Só de reservar os hostels já doeu a alma ver os preços. Mas tenho fé que no final tudo dá certo. Quero passar um tempo sozinha, meditar um pouco, e fazer algumas trilhas nas montanhas. A temperatura caiu drasticamente aqui em Zagreb ontem. A gente parecia uns pinguinzinhos embaixo da chuva. Uma pena que não deu para ver a cidade direito, e Zagreb me pareceu uma cidade muito interessante. Tem aquela dureza arquitetônica do antigo regime socialista, mas eles plantam alguns jardins de flores coloridas e dá uma respirada. Muito mais antenada, globalizada e bem menos gafanhotos. Domingo fiquei um tempo conversando com umas garotas de 19 anos daqui. Lindas, como todas as croatas. Super maquiadas como todas as adolescentes. Inteligentes e conscientes como quase nenhum dos que conheço no Brasil. Elas vêm de famílias de classe média e classe média alta. Falam inglês fluentemente, estudam ecologia e comunicação, ou qualquer outro curso que as façam se sentirem parte do tempo atual. Possuem opiniões muito fortes sobre o país, a política e a própria geração. Gastam suas kunas em bebidas baratas e festas alternativas em bairros de Zagreb. E fumam muita maconha. Me contaram que lembram pouco da época da guerra e foram as mais abertas de todos os croatas a falarem sobre isso. Os mais velhos ainda sentem as feridas sangrarem, mas elas falam sem constrangimentos e acreditam que esse é um assunto que deveria ser perdoado e esquecido. Me contaram que recebiam caixas com presentes na época. Cheios de desenhos de outras crianças de outros lugares do mundo que enviavam em solidariedade. E que se lembram de comerem muito pudim. Para manter as aparências, como Zagreb não foi afetada pela guerra, o governo distribuía pudim para as crianças numas de política “pão e circo” infantil. Uma infância cheia de pudim. Hoje elas anseiam pela entrada da Croácia na Comunidade Européia. Vislumbrando as possibilidades de trabalhos e estudos pela Europa. Acham que o impacto da moeda seria um problema só no início, mas que valia a pena uma vez que o país seria cobrado para uma postura mais responsável. Esperam que seja uma forma de freiar a corrupção que lava à rodo o país. Eu queria que o Brasil entrasse na Comunidade Européia se fosse assim. Fico só imaginando qual vai ser o choque agora. Ir direto para o clichê do primeiro mundo. Ao mesmo tempo tenho tantas peças de quebra-cabeça para juntar. O final da viagem vai ser uma descida de montanha russa. Sinto São Paulo cada vez mais perto. Uma parte de mim tem medo de me esquecer para trás.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que nenhuma parte de mim se esqueça. Que minha parte afeita a montanhas seja minha melhor parte. E que de mim não faça desfeita, porque a parte de alguém que fui um dia me disse: parte. Que eu seja sempre um todo: toda parte que fica, toda parte que parte.