"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
WHERE ARE ALL THE 30´s PEOPLE GO?
Edinburgh é mesmo uma cidade fascinante. Eu ligaria um pouco o aquecedor, mas é uma cidade fascinante. Cheia de lendas, histórias, becos que parecem te transportar para uma dimensão paralela. É como se a cidade fosse uma cebola, e você vai descobrindo as várias camadas dela. É um personagem coadjuvante interpretado por um ator fenomenal. A gente não consegue tirar os olhos dele, mas a peça é sobre outra coisa. De qualquer forma, fui fazer o super recomendado Edinburgh Literary Pub Tour. Não conheço muito da literatura escocesa além dos clássicos óbvios (O Médico e o Monstro, Rob Roy, etc), e de Harry Potter (só que J. K. Howling é inglesa, não escocesa.). Então foi legal fazer um tour passando pelos bares icônicos e pelos lugares onde grandes poetas e escritores viviam. Dois atores vão levando o grupo de bar em bar e, enquanto você toma um pint de alguma cerveja escocesa, vão contando as biografias e declamando poemas e trechos desses autores. O tour parece até uma peça interativa. Cada ator representa um personagem, eles seguem um roteirinho e vão alternando entre narração e personagem. Fiquei louca para ler tudo de Walter Scott, Robert Burns e Muriel Spark. Os guias ainda te dão dicas das melhores livrarias de Edinburgh e inside tips para aproveitar melhor. Agora, adivinha só. Era um pub tour, né? Quantas pessoas de 20 e poucos estavam nesse tour? Exato. Nenhuma! Depois fiquei conversando com umas alemãs super descoladas. Me encheram de dicas sobre a Alemanha, roteiros para fazer, o que evitar. Falamos sobre “Adeus Lenin” e “A Vida dos Outros”, e sobre a queda do muro. Todas na faixa dos 50. Voltando para o hostel eu comecei a prestar atenção nas pessoas que andavam na rua. Nos turistas. Uma horda de pós-adolescentes produzidos para a balada. Grupos de 20 e poucos na porta dos pubs. Todos sempre em bando. É o comportamento da matilha. E saindo dos restaurantes alguns casais de meia idade. Grupos de terceira idade também estão para todos os lados. Pequenos grupos de amigas na faixa dos 40. Algumas famílias... Comecei a refazer meus passos durante o dia. As salas do Castelo de Edinburgh. A Royal Mille. O Elephant Cafe. Então caiu a ficha! Eu estava sozinha. Em todo o trajeto do Grassmarket, pelo tour literário, pelos pubs, e por toda a multidão desviando de performances na Royal Mille. Eu era a única pessoa de 30 e poucos viajando sozinha. Me lembro de dois casais no Elephant Cafe com um bebê e uma criança de 2 anos insuportável. Um casal na minha frente na fila para ver as jóias da corôa no Castelo de Edinburgh com um bebê lindinho pendurado nas costas, dormindo como um anjinho. Lembro de um casal australiano de “quase 30” (ela tinha 26, ele 28) indo à pé para Arthur Seat, e da australiana de 28 que viu o show de stand up comigo. (mas acho que esses não contam, porque não têm 30 e poucos) E me lembro ... Não! Não lembro de mais nada. É isso. Tinha eu. E tinha um monte de gente ou mais nova, ou mais velha. Eu estava sozinha. Onde é que foram parar todas as pessoas de 30 e pouco do mundo? Será que está todo mundo tendo filho e aparando a grama do jardim no final de semana? Será que é isso? Tão triste! Será que as pessoas só criam coragem para viajar depois dos 40? Ou deixam para se jogar na vida na terceira idade? Porque a gente faz isso? A molecada de 20 anos só quer festa. Eles bebem a noite inteira, beijam todo mundo, não sabem nada da história e da cultura do lugar. Voltam para o hostel no meio da madrugada e dormem até meio dia. As mais velhas seguem tours agendados, nunca se arricam. Pagam guias, comem em restaurantes caros. São cheias de horários e rotinas, e acabam perdendo um pouco da vida autêntica de rua dos lugares. E se você está bem no meio, é obrigada a se enfiar em um inútil pub crawl no estilo “American Pie” ou discutir Hume em uma mesa de bar onde a sua chegada vai DIMINUIR a média de idade em uns 10 anos. O que aconteceu com as pessoas de 30 e pouco? Não é possível que estavam todas fazendo o roteiro “Edinburgh para crianças”. Eu cheguei no meu hostel (que já falei, parece uma república) e Cindy Lauper cantava “Girls Just Wanna Have Fun” a plenos pulmões. Uma menina loira passou correndo na minha frente com enormes óculos escuros de aro branco e um lenço de oncinha amarrado na cabeça. Na escada para o quarto tinha um casal quase chegando às vias de fato. As coisas não mudaram nada desde o tempo em que eu dançava essa mesma música da Cindy Lauper. Já tive 20 anos uma vez. Não quero ter denovo. Também não quero viver a meia idade por antecedência. Eu tenho 33 anos de idade. Eu quero viver meus 33 anos de idade. Não quero viver a vida de filhos, nem de uma comunidade de casais. Não agora. Eu quero viver minha vida de 33, não um personagem. Um papel que foi estipulado para mim. Quando eu penso nisso eu vejo que o mundo não reservou muito espaço para pessoas assim. Nunca senti tão forte a inadequação quanto depois que passei da marca dos 30. Estou vivendo. Estou vendo meus amigos perdidos. Ninguém sabendo direito o que fazer, para onde ir. Todo mundo se descobrindo insatisfeito. Todo mundo tentando se agarrar a alguma certeza. Eu mesma só estou aqui porque resolvi sair em busca de alguma coisa. Onde estão as pessoas da minha geração? Quando foi que a gente deixou isso acontecer?
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