"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
NA BOLHA
Ok, a Suíça é cara. Ninguém esperava que fosse diferente. Quando cheguei levei um susto maior. Achei que a taxa estava de 1,5 para 1 em relação ao Euro. Sentei em um banquinho no aeroporto e fiquei com medo de atravessar a porta. Estava resolvida a não sair do aeroporto com medo de gastar muito dinheiro. Respirei quando descobri que era o contrário. Ainda assim é cara. Paguei quase R$20 ontem por um cachorro quente e uma coca-cola. E não era aqueles “dogão” que vende nas Topics nas portas dos estádios. Era uma linguiça enrolada em um papel e um pedaço de pão. Eu sentei em um banquinho na margem do rio, junto com todos os outros suíços que aproveitam o verão para almoçar ao livre, e fiquei jogando pedaços do meu super caro pão para os cisnes. Primeiro mundo minha gente. Nada de dar pipoca para pomba na praça pública. Aqui a gente joga hotdog para cisne no rio. Uma manada de cisnes (desculpa gente, mas estou com preguiça de descobrir o coletivo de cisne). Eles ficam esticando os pescoços para olhar o que você está comendo em cima do banco e se bicam entre si para disputar espaço. Me lembraram um pouco as crises de ciúmes que os cachorros da minha mãe tem entre eles. Depois eu deitei e tirei um cochilo no Sol. Fez um dia lindo aqui ontem. Quente e seco. Friozinho no final da tarde e à noite. Bom para dormir. Dia típico de outono em São Paulo. Dia típico de verão por aqui. Zurich é uma cidade perfeita. Perfeita em tudo. As ruas são calmas, lindas e limpas. As pessoas são educadas, elegantes. Mas não existe aquele esnobismo novo-rico que a gente costuma ver em alguns bairros de São Paulo. Zero ostentação. As pessoas são bem low profile inclusive. Tudo é tão organizado. Existe uma paz no ar. Eu tenho a sensação de que nada de ruim pode me acontecer aqui. Por isso mesmo pensei que essa é uma ótima cidade para se morar se você precisa de um tempo para pensar e se encontrar. É como estar em uma bolha do resto do mundo real. Aqui é tudo meio Playmobil. Mas morar só por um tempo. Ninguém aguenta comer tanto cachorro-quente. Eu decobri ontem que a Suíça tem a maior taxa de suicídio do mundo. Eu achava que era do Japão. Toda aquela obsessão com honra e etc. Às vezes o maior tormento e não ter tormento nenhum. Tanta segurança, tanta segurança, que a gente precisa se jogar de cima de um prédio para ter certeza de que está vivo. Vai saber!? Mesmo assim eu comprei drageas de chocolate com champgne e passei o dia sentindo derreter na minha língua enquanto eu me perdia pelas ruas. Não falar nada da língua também me ajuda a ficar em um bolha. Eu posso olhar para tudo, achar lindo e sorrir apenas. Estou hospedada na casa da Lícia, a namorada do Ivan. Querida que me tratou com todos os mimos. Agora estou terminando de empacotar e vou para Interlaken. Amanhã vou passar o dia fazendo hiking nas montanhas. Comprei algumas blusas térmicas ontem para aguentar a neve, e um tênis novo impermeável. Tudo ao custo de francos suíços. Já não me importa. Estou extasiada de me perder nos próximos dias nas montanhas. Passar algum tempo sem ver nem falar com ninguém. Só eu comigo. Depois, eu já sei, nada de muito ruim pode me acontecer.
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Um comentário:
Dri... saudades de vc!!! seu niver passou, mais só hoje descobri seu blog... passando pra deixar os parabéns mesmo atrasado!!!
adoro vc, bjus
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