sexta-feira, 3 de setembro de 2010

NA ILHA

*foi um presente para mim, porque não colocar aqui também. É para isso que eu caminho tanto...

Interlaken é um a cidadezinha sem sal. Um amontoado de casinha entre dois lagos lindos de águas azuis claras e você não está perdendo nada na verdade. São criativos para dar nome nas cidades por aqui também. A única razão de vir para cá é poder fugir para os alpes que a cercam de todos os lados. Uma ilha. Cercada de alpes por todos os lados. Hoje acordei às 6h da manhã. Estou em um hostel excelente. Hostelaria suíça, tá! Parece que eu sou a única ocidental do lugar. Japoneses, coreanos, chineses, indianos, indoneses (quem nasce na Indonésia é o que?). E eu aqui no meio. No terceiro andar eles têm uma “sala de meditação”. Em vez de fazer minhas meditações sentadinha na cama, hoje eu subi arrastando minhas havaianas e fiquei meditando na tal da sala até dar a hora do café da manhã. Um monte de meditação e etnias orientais no meio da Suíça. Será que isso quer dizer alguma coisa? Quem sabe a próxima mochilada é pela Ásia... Muito cedo para pensar nisso Adriana! Termina essa e faz direito! Peguei um ônibus até uma estação de trem ao norte da cidade e de lá subi de bonde até a base onde começava a trilha que resolvi fazer. 6 horas de trilha passando bem longe dos pontos mais gafanhotos das redondezas. Não quero nem saber porque todo mundo sobe o Jungfrau ou tira foto em cima das nuvens. Estou com vontade de ir exatamente na direção contrária. Muita gente fazendo a mesma trilha. A grande maioria casais de terceira idade, grupos beirando os 50 anos, um ou outro casal com filhos. Alemães e suíços. Entendi que talvez a molecada australiana de 20 e poucos suba toda para o Jungfrau. Já comecei a trilha feliz pela escolha. A saída da base estava a mais ou menos 1000m de altura. O ponto mais alto alcançou os 2500m e terminei em First à cerca de 1800m. Nada mal. As primeiras 4 horas foram de um prazer indescritível. Dei uma arrancada logo na saída e consegui me afastar dos outros hikers e passei um bom tempo caminhando sozinha. No meio da grandiosidade dessas montanhas, tão perto do céu. No começo da semana nevou nos alpes e como nos últimos dois dias o tempo esquentou, a neve estava toda derretendo. Em alguns pontos dava para ouvir a água escorrendo entre as pedras. Mas no geral isso significa longos trechos de lama pura. Neve derretida + trilha de terra. Ainda bem que comprei tênis novos. Não teria chegado na metade sem eles. Outros pontos batia um medinho. Trechos em que a neve ainda resistia, dura e compacta. Bem difícil caminhar em uma trilha estreitinha a beira de um penhasco coberta de gelo. Eu queria ter um daqueles bastões de caminhada. Ficava imaginando quanto tempo demorariam para me resgatar se eu escorregasse. Depois empurrava o pensamento para longe, para não atrair. Xô! Como o ritmo estava tranquilo, acabei não bebendo muita água e me alimentando quase nada. As duas últimas horas foram bem doloridas por causa da burrice. Mas conforme eu fui descendo, saindo das áreas com neve, um vale maravilhoso se abriu a minha frente. Duas lagoas, uma montanha branca à frente, e o Sol abençoando tudo de levinho. É por momentos assim que a gente precisa caminhar tanto. Voltei para o hostel no final da tarde. Sem fome, sem sede. Bastante confusa com a batalha de pensamentos que passei o dia todo. Uma crise de choro que veio do nada no meio da trilha, e foi seguida de outra de gargalhada. Ainda bem que não tinha ninguém por perto. Acho que eu ia ficar com vergonha. Agora estou com 3 barras de chocolate diferentes abertas. Dou uma mordida em cada um igual criança. Estou amando o silêncio que me enfiei. Cruzei uma porta a algumas semanas atrás. Aqui dentro está tão confortável que acho que nunca mais vou sair. Muito cedo para pensar em tanta coisa. Eu simplesmente estou confortável no lugar onde eu estou agora.

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