quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

GUATEMALA - DIA 4

Tive insônia hoje. Passei o dia tomando café. É quase imprescindível  tomar café. A gente sai de Antigua às 7h20. São 50 minutos até a comunidade. Chegando lá tenho que organizar o material para a aula, arrumar a sala, checar se todos os cadernos e textos estão em ordem. Então chegam as crianças. É preciso manter a energia alta o tempo todo. Se você der sinal de distração, de que não está 100%, eles te devoram.  Juro que essas crianças te devoram! No intervalo ainda temos que brincar. Não tem essa de sentar em um canto e vigiar as crianças não. Tem de correr, pular corda, brincar de esconde-esconde, dançar, andar de cavalinho. Às vezes tenho dois ao mesmo tempo no colo e um pendurado na perna. Eles acham divertidíssimo. Hoje as meninas estavam rolando no chão de terrra. Literalmente rolando. Então resolveram que seria legal me fazer um penteado. Imagina que delícia. Mãozinhas ávidas fazendo tranças nos meus cabelos. Passei o resto do dia com um penteado super torto na cabeça. A pausa para o almoço é o único momento de alívio. Logo em seguida já voltamos para o projeto e planejamos aulas, e à tarde tudo de novo como o período da manhã. Os alunos da tarde todos os dias foram mais comportados do que os da manhã. Hoje inverteram. Os da tarde estavam terríveis. Eu tinha a sensação que não parava de chamar a atenção. Exaustivo. Dona Helena, a líder comunitária que cozinha para a gente, fez um prato típico guatemalteco especial. Pepián. É um prato sofisticado, que eles fazem em datas comemorativas e casamentos. Demora umas 5 horas para ser feito. Tanto luxo porque os pais de Don estavam visitando o projeto hoje e Don é muito respeitado na comunidade. Nossa, tenho comido tão bem por aqui. Não fui em um único restaurante até agora. Só comida caseira. Eu acho isso luxo. No final da tarde passei na agência de turismo para ver quais as opções de passeio para o final de semana. Quero muito subir um vulcão. A Guatemala tem tantos vulcões. Pode-se subir inclusivo os ativos. Tirar fotos ao lado de rios de lava. Quando meu avião estava pousando eu vi um vulcão soltando um cogumelo de fumaça no ar. É bem impressionante. Parece desenho animado. Na terça-feira durante o jantar, Duilio (meu host father) estava me contando algumas lendas guatemaltecas. Coisas tipo “homem do saco” e “mula sem cabeça”. Todas as culturas possuem suas próprias versões das mesmas lendas. Adoro ouvir sobre isso. Hoje no café da manhã ele me disse que haveria uma apresentação das lendas na Casa de Cultura na praça central. Saí da aula de espanhol e fui para lá assistir. Nenhum dos outros voluntários se animou então eu fui sozinha. Cheguei lá e estavam alguns atores fantasiados dos personagens. Consegui identificar alguns pelas histórias que Duilio me contou. Sentei no fundo, Tinha um projetor de slides, microfone. Rolou uma grande cerimônia, com autoridades locais sendo homenageadas e discursos empolgadíssimos. Eles são bem cerimoniosos esses guatemaltecos. Muitos aplausos, entregas de certificados de honra. Depois de mais de meia hora de blábláblá, começou uma palestra de um parapsicólogo especializado em “estudos do outro mundo”. A palestra não era exatamente uma apresentação de tradições folclóricas, mas um seminário sobre a real existências dos personagens. Um exemplo, uma das lendas mais populares é o  da Chorona. Uma mulher que perdeu seu filho no parto e morreu, e acreditam que vaga pelas ruas durante as noites chorando em busca de seu filho. É uma versão do nosso “Homem do Saco”. Utilizada para assustar crianças. “Mira niño. Se no te comporta, la chorona ven te buscar, porque ella procura su hijo e va atras de los niños.”. O homem, muy serio, usando terno e gravata e tudo, dizia possuir pelo menos cinco gravações autênticas da tal da Chorona. Agora imagina só. Uma palestra com um cara a sério clamando ter provas irrefutáveis do Curupira!? Ai, sei que é feio, mas eu estava quase rolando de rir. Acabei fazendo amizade com uma chinesa turista e saímos para tomar um café. Foi gostoso ter uma pausa da loucura que foi essa semana. Amanhã é o último dia de Alec e Linn no projeto (o casal na terceira idade da Austrália). Acho incrível o pique que os dois têm. Eles seguem para Honduras no domingo. Preciso pensar em algo e propor para as crianças fazerem amanhã para se despedirem de Alec.

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