"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
CARROSSEL
Minha última semana na Farmville. Eu tento sempre me apegar ao que interessa e jogar fora o resto. Não tem sido nem de perto a experiência que eu imaginava. Não tem sido também nem melhor ou pior. Apenas diferente, e às vezes as coisas são assim. Diferentes e só. Basicamente minha rotina tem sido acordar às 5h30 para dar uma corridinha antes de começar. Tomar café da manhã e começar a trabalhar às 7h. É nessa hora que eu coloco o Ipod no ouvido e esqueço do mundo. Ontem limpei janelas e o porão. O porão em particular estava me angustiando, porque a casa estava bem sujinha no geral. Imagina o porão!!! Eu estou querendo pegar aquele porão e dar uma geral desde semana passada, mas sempre me pediam para fazer alguma outra coisa. Ontem fiz o porão inteiro. Ouvindo a trilha sonora de Juno. Duas vezes. Continua com cara de porão, mas pelo menos não tem mais jeito de abandonado. Depois voltei para Jewel, todo o repertório. Mais duas vezes. Eu sou mesmo repetitiva. Eu gosto. Às 10h a gente faz uma pausa. Os meninos sobem com Steve da plantação e senta todo mundo na cozinha para tomar um segundo café da manhã. Eu tomo um café e como umas torradas, mas o povo aqui leva a sério esse negócio de comer. Rola linguiça, ovos mexidos com leite, torradas, feijão cozido. Essa é a minha definição de enjôo matinal! Então a gente conversa um pouco, faz umas piadas. E eu volto para o Ipod até às 13h, quando todo mundo senta na cozinha para o almoço. Às vezes nem tenho muita fome, mas rola uma coisa de “refeição em família” e seria extremamente deselegante não sentar à mesa. Então eu como uma salada, belisco uns pedaços de frios e fico ouvindo as conversas e esperando o povo terminar para eu poder levantar. Só depois disso tudo que eu consigo sentar e ter um tempo para mim. Entre às 14h e às 16h é o único horário de privacidade que tenho. Fico sozinha na casa e tenho de aproveitar para telefonar para o Brasil, para meus amigos, fazer sessão de terapia pelo skype, escrever post, escrever livro, planejar viagem. Tudo. Porque às 16h todo mundo começa a voltar para a casa e, mesmo que eu tente ficar na minha no meu computador, é humanamente impossível com tanta gente falando, andando, fazendo pergunta. Por volta das 19h a gente janta. Mesmo esquema do almoço. Sorrir, aguardar na mesa, até poder levantar. Depois do jantar as pessoas ficam meio espalhadas pelas áreas comuns. Eu tomo um banho, leio um pouco. E se eu precisar de privacidade para falar com alguém, só depois das 22h, quando todo mundo já foi dormir. A questão da privacidade é um pouco mais complicada porque a internet só pega nas áreas comuns. Nas salas e na cozinha. Como eu comprei esse computador em Portugal no começo da jornada, fiquei sem dicionário. Meu word também está sem corretor. Então preciso fazer todas minhas consultas online. Já tentei escrever desconectada mas é bem improdutivo. Hoje quebramos um pouco a rotina. Steve e Justin (o canadense) queriam ir pescar na praia. Sasha está aqui (aliás, protagonizando algumas cenas de birra infantil que faria qualquer pessoa ser a favor do aborto em cinco segundos!), então depois do almoço eles foram para a praia. Eu fui com Penny depois que ela fechou a winery. Se a Inglaterra não é famosa pelos seus vinhos, muito menos pelas suas praias. Praia de pedra, mas nada perto da Riviera Francesa. Um vento de lascar. Eu tremendo e batendo os dentes, levantei o capuz do moleton e fiquei tentando inutilmente me esconder no meio das pedras. O espanhol ainda mergulhou, saiu nadando. Louco! Tem feito a mesma temperatura do que São Paulo aqui. Com a diferença de que aqui é verão. (Definitivamente, eu não posso morar no Reino Unido. Não com esse clima.) Então eu peguei meu livrinho e fui para o carro fugir do vento e me manter aquecida. Eu e Penny ainda levamos Sasha em um parquinho de diversões no final da tarde. Fui no trem fantasma e no carrinho de bate-bate com ela. Uma criança mal-criada, mas ainda uma criança. A gente comeu fish & chips e voltamos para casa. Eu não vou entrar em detalhes, porque essa história não é minha. Mas, embora tenha soado como um dia gostoso e divertido, foi um dia triste. Muito triste. É muito triste o que a falta de amor na vida de uma pessoa pode fazer. Eu voltei a me encher de ternura. Voltei a me encher de compaixão. Às vezes não existe nada no mundo mais triste do que uma criança rindo e girando sozinha em um carrossel. Me senti um pouco culpada de ter passado os últimos dias de saco cheio. É um bando de gente carente lá fora. É como uma praia cinza de pedras, em um verão sem calor nem Sol.
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Um comentário:
Dri aproveite a última semana!!! Eu sei, eu sei... estou em débito com o email que prometi mandar... mas comecei no novo trabalho e é tudo novo e ainda não tenho autonomia... não tenho email e os acessos da net são bloqueados. Daí resta que a noite eu consiga ler emails rapidamente senão passo a noite toda no comp. Claro que dou uma passadinha aqui para acompanhar como vc está!! ;)
Assim que passar este início de nova vida e eu me ajeitar escrevo!
Amei o quadro da bandeira inglesa "keep calm and carry on"... frase perfeita!!! acho que a vida deve ser assim pq stress não resolve nada.. bem pelo contrário..
Então curta essa última semaninha pq as memórias serão doces...
Bjnhos
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