"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
terça-feira, 10 de agosto de 2010
EDINBURGH CRAZY
Edinburgh ferve. Cheguei aqui ontem e a cidade pulsa de um jeito, que não dá para explicar. Durante todo o mês de agosto acontece o Edinburgh Fringe. O maior Festival de artes performáticas do mundo. São mais de 25 mil artistas apresentando peças, stand-up, dança, música e performances de rua. Uma loucura. Você vai andando pela rua e tropeçando em tudo quando é tipo de gente. Os atores passam o dia entregando flyers de seus espetáculos, tentando chamar a atenção do público para, de alguma forma, se destacarem na imensidão de ofertas da programação. Cartazes com atores fazendo poses e caretas espalhados por TODA a cidade. São tantas coisas, tantas coisas, que não dá vontade de ver nada. Depois de uma hora eu tinha a impressão de que era tudo igual. Tudo um pouco mais do mesmo. Eu fui fazer um walking tour e tirar minhas primeiras impressões da cidade. O clima está doidinho. Amanheceu com Sol, mas antes de eu terminar o café da manhã ficou nublado. Depois choveu. Abriu Sol de novo. Choveu. Nublou. E terminamos a tarde com um Sol gostoso e um dia claro. Entendam que Sol gostoso aqui significa aqueles dias de inverno com Sol gelado que a gente tem em São Paulo. O povo andando de regata na rua e eu pensando em comprar luvas. Compras aliás, tem sido uma tortura. Não apenas porque não tenho como carregar, mas também porque as coisas são caras. Tudo bem, é cashmere. Mas é caro. Eu tenho vontade de comprar tudo, mergulhar em um mundo de cardigãs, suéters, boinas e cachecóis tão fofinhos que eu nunca mais usaria outra roupa na vida. Cores lindas. As padronagens de tartans a gente nem sabe por onde começar. Mas eu acho £30 por um cachecol muito dinheiro. Mesmo sendo cashmere. Então eu ficava entrando nas lojas, babando. Passando a mão em tudo. Esfregando minha bochecha nas araras. Os vendedores deixam. Acho que todo mundo faz isso. Cashmere tem esse poder magnético sobre as pessoas. Seria um crime se não deixassem. Verdade que estou conhecendo uma Edinburgh bem descaracterizada. Jovens festejando e enchendo a cara por todos os lados, performances, música. Imagina a Virada Cultural. Agora imagina isso por um mês todos os dias. É assim que Edinburgh está. Quando você consegue achar um escocês perdido no meio da multidão, dá para sentir o ar de cansaço. As pessoas estão nervosas no trânsito. Andam buzinando e xingando. Ônibus enormes estão sempre fechando o cruzamento. Dá para entender. Todo mundo vem para cá nessa época do ano em busca dessa ebulição. Eu achei que ia chegar aqui e mergulhar no meio da loucura. Me inebriar pelas noites. Redescobrir o teatro em mim. Falar, conversar, fazer um milhão de amigos. Eu pensei que eu ia para a lama. Mas não sinto a menor vontade de virar uma “party animal”. Tudo o que eu consigo ver é uma grande feira de vaidades. Meu tempo já passou. Eu aproveito a diversidade, sorrio. Tiro fotos, dou risada. Mas assisto. É o que eu sinto vontade. Eu desconstrui tantas coisas em mim e estou começando a juntas os pedacinhos. Acho que gosto mesmo é de assistir. Observar. Distanciar. As coisas se processam em mim de uma outra forma. Eu não quero ser a pessoa maquiada no centro do palco. Nem a que comprou lugares na primeira fila. Não quero ser a pessoa no meio da galera na mesa do bar. Também não quero ser a “Dancing Queen” na pista do club (Young and sweet, only seventeen). Acho que comecei a enxergar em que lugares eu estou realmente confortável. Comecei a enxergar uma possibilidade de vida em que se pode ter tudo e nada. A vida é uma grande feira de vaidades. A gente acaba se matando para sentar na primeira fila, ou distribuindo flyers para convencer o público de nossos espetáculos particulares. Às vezes o melhor mesmo é nem se inscrever no Festival.
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2 comentários:
ADOREI!!! "Acho que comecei a enxergar em que lugares eu estou realmente confortável. Comecei a enxergar uma possibilidade de vida em que se pode ter tudo e nada." Acho que perceber isso na vida é um presente e não são todas as pessoas que são abençoadas com esta dádiva!! PARABÉNS!!!
Ahhhh... e esfregar cashmere na bochecha é BOM DEMAISSSS!! rs
Um grande beijo!!
Faz um favor? COMPRA um cachecold e 30 pounds? ou um casaquinho mais caro ainda? Cashmere, vale, xuxu, e vc vai amar uma peça com história... Eu não sou consumista. Sou muquirana. Se eu estou falando COMPRA, compra, vá! hehe
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