domingo, 27 de junho de 2010

LA VIE EN...

Antes de começar essa jornada eu tinha colocado como um dos objetivos conhecer a região de Provence. Eu queria alugar um carro, fazer a região e depois subir até Paris. Esse era meu plano. Só que a pessoa aqui é pouco distraída e conseguiu a façanha de obter 80 pontos na carteira de motorista. Eu vim para a Europa, mas minha carta está de castigo no Detram até começo de agosto. Aliás, foi assim que S e eu caímos nesse test drive antes de qualquer outra coisa. Ele se ofereceu para dirigir, já que eu não poderia alugar um carro sem carta. Então estamos aqui, fazendo o roteiro que eu sempre quis. Vir a Provence para ver os campos de lavanda floridos (Ainda não vi, mas estamos chegando lá!!!). Enquanto estamos aqui, porque não explorar um pouco a região? Aproveitar que estamos com um carro e podemos nos dar ao luxo de rodar pelas estradas, parar em vilarejos. A gente saiu de Grasse ontem. Uma cidadezinha sem muito fascínio, mas cheia de perfumarias. No caminho, subindo para a região de Haute de Provence a gente já foi encontrando umas cidadezinhas hiper charmosas. Todas com cara de conto de fadas, sabe? Paramos em St. Vallier de Thiey. Uma igrejinha no centro, uma torre com um relógio e um monte de casinhas apinhadas entre ruelinhas medievais. Uma vontade de sair pelo meio brincando de Cinderella. Dia de grandes acontecimentos por ali. Um grupo de crianças encenava pequenas historinhas em um palco, no que eu imaginei que fosse uma Festa Junina da escola local. Famílias com seus cachorros pelos gramados. Um mercado de pulgas na calçada, no melhor estilo “Família Vende Tudo”. (Sorry Y! Não tinha nenhuma caixinha de porcelana como aquela... Juro que volto em Lisboa e encontro para você.) Depois eu fui caçar um pouco de cafeína para a manutenção do meu vício, e S. foi comprar bolachas e framboesas para comermos no carro. Essa é minha idéia de road trip. Largar o tênis jogado no banco de trás. Comer frutas com o vidro aberto, embaraçando o cabelo no vento. Brigar para ver quem tem no Ipod a trilha sonora mais interessante. E parar no acostamento quando se deparar com uma vista de cair o queixo. Às vezes só ficar em silêncio. Sentindo o asfalto passando embaixo dos pneus do carro e pensando, “Como a França é linda!”. Bem diferente do que eu esperava. Mais crua, mais viva. Mas é a França, a França de verdade. Das pessoas comuns. Daquelas que investem em uma vida em comunidade, trabalham no comércio local. Gente com carrinhos de bebês nos gramados e cães pulguentos atravessando as ruas. E quando eu acho que estou quebrando todos os clichês. Que nenhum galã de bigode ralo e camiseta navy vai aparecer e me falar de “amour”. Que nenhum senhor de boina vai cruzar a rua em uma bicicleta levando baguetes de pão e uma garrafa de vinho na cestinha da frente. Quando eu estou bebendo meu café na França de verdade, a voz de Edith Piaf ressoa pelo terraço da boulangerie cantando “La Vie en Rose”. Então eu começo a rir. Porque é obvio. Porque é mágico. E porque, por mais que a gente faça planos na vida. Nem nos nossos mais delirantes sonhos, eles são tão perfeitos do que quando a vida se encarrega de fazer do jeito dela.

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